Folha de S. Paulo


Nós sempre teremos Paris

RIO DE JANEIRO - Quem tem o hábito de se martirizar lendo o "Diário Oficial" do Rio se acostumou a ver a suspensão de contagem de prazo de obras com explicação "indisponibilidade de créditos financeiros".

É uma exigência da lei. Mas serve como lembrança dos compromissos assumidos numa fase de deslumbre.

Na segunda (6), foi a vez da reforma de um prédio público que receberá a Le Cordon Bleu, tradicional escola francesa de alta gastronomia.

O ex-governador Sérgio Cabral lançou em 2012 a obra que consumiria dez meses e R$ 4 milhões. Ainda não acabou e custará o triplo. Era um período em que se acreditava haver dinheiro para supostas originalidades em busca de projeção internacional.

O teleférico do Alemão -da francesa Pomalgaski- custou mais de R$ 200 milhões. Após cinco anos, ainda opera abaixo da capacidade por desinteresse dos moradores da região.

A primeira gestão Cabral nadava em verba do PAC. A segunda se gabava por conseguir empréstimo "até do Credit Suisse". O resultado já é conhecido: Estado atrasando o salário de servidores anos depois.

A primeira vítima do calote fluminense em empréstimos foi a Agência Francesa de Desenvolvimento. Fotos da farra em Paris já haviam deflagrado a derrocada política do líder do PMDB.

Na quinta (9), o governador em exercício Francisco Dornelles (PP) incluiu em mais um pacote de cortes o veto a viagens internacionais bancadas pelo Estado, numa crítica possivelmente involuntária ao antecessor.

E, num golpe do destino, passado perdulário e presente falimentar podem se encontrar. Se confirmada a previsão para setembro, o início das aulas na escola de alta gastronomia francesa se dará no mesmo mês em que beneficiários do Renda Melhor, programa de transferência de renda do Estado suspenso no último corte, passarão a ter menos recursos para comprar arroz e feijão.

Mas nós sempre teremos Paris.


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