Folha de S. Paulo


Talvez só reste ao PSDB se inspirar no papelão do Senado e 'apagar as luzes'

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 11-07-2017, 12h00: As senadoras pediram marmitas para as assessorias e almoçaram na mesa da presidência. Senadoras da oposição fazem obstrução e tentam impedir a votação da reforma trabalhista no senado federal. Elas sentaram na cadeira do presidente do senado e não deixaram o presidente Eunício Oliveira (PMDB-CE) iniciar a sessão. Houve um impasse entre Eunício e os senadores da oposição e a presidência ordenou o desligamento das luzes do plenário. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Senadoras almoçam na mesa da presidência da Casa, que teve a luz cortada nesta terça (11)

A tática de protesto conhecida como "sit-in", sentar-se em algum lugar não sancionado até tomar ser expulso à força ou atendido, é um dos legados do advogado indiano Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948).

Forma não violenta de manifestação, floresceu na luta anti-imperialista na então Índia britânica e se viu repetida de diversas maneiras ao longo dos anos, em especial em movimentos por direitos civis nos EUA.

Claro que o Brasil não poderia ficar de fora da degeneração recente da prática, registrada inicialmente pelos "millennials" mimados dos Occupy da vida. A avacalhação do "sit-in" chegou nesta terça (11) ao Senado Federal, onde três representantes de Estados acharam por bem ocupar a cadeira da presidência da Casa porque não concordavam com o texto a ser votado da reforma trabalhista.

Que tal votar? "Ah, mas existe um rolo compressor de direitos dos trabalhadores acionado". Denunciem, protestem, vão às ruas. Mas interrupção do trabalho legislativo na marra revela descaso com princípios algo básicos e flerta com práticas de outro nome, que esse pessoal de memória histórica curta costuma usar contra aqueles que considera inimigos. Nada casual era o trio ter consigo a presidente do PT, curioso caso de uma ré que fala grosso ao cobrar moralidade pública.

O episódio, coroado pelo bizarro apagar das luzes por ordem do presidente da Casa, é um pequeno e eloquente sinal das dificuldades que espreitam o doente terminal chamado governo Temer.

O problema para seus aliados, PSDB à frente, é o que fazer. A saída constitucional, com o afastamento de Temer e posse de Rodrigo Maia em caso de o presidente ser julgado pela acusação de corrupção, tem sido precificada dia a dia, mas no fundo só agrada muito ao DEM. Ganham também oposição, com um Judas fresquinho para a malhação, e a Lava Jato, que já mostrou a que veio no caso de "Botafogo".

A bile destilada na reunião tucana de segunda (10) dá medida do imbróglio. Ficar com Temer implica desgaste que a bancada na Câmara considera fatal e a de governadores, administrável. O cada vez mais presidenciável Geraldo Alckmin (SP), por exemplo, acende velas em altares antagônicos ao falar sobre o assunto.

Abandonar o Planalto, por sua vez, mata o governo. Nesse caso, o PSDB ficaria na gestão Maia? Teria como dizer não a um antigo aliado? Ou dirá que "apoia reformas", seja o que for isso? Quem seria a chapa no caso de Temer jogar a toalha e o Congresso ser chamado a eleger um tampão até 2019?

Por fim e mais importante, alguém acredita que o democrata será imediatamente um sucesso de popularidade? Não nas hostes tucanas, o que explica o buraco em que se encontram.

Com o clima azedo, paroquialismos afloram. Mais de um dirigente tucano está irritado com a desenvoltura de Tasso Jereissati quando fala em desembarque em público, sugerindo que o alvo de suas queixas é a cota de cargos federais no seu Ceará, dominada pelo presidente do Senado Eunício Oliveira (PMDB).

Um governador reclamou de nomeações em seu Estado. Prefeitos questionaram por que só João Doria, recém-chegado ao barco, representava a categoria no encontro tucano. Seja lá quem tenha a razão, se unidade era o objetivo da reunião, o fracasso foi retumbante.

Aos tucanos, por ora resta emular Eunício e apagar a luz, na esperança de que algo melhore à frente


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