Folha de S. Paulo


Apenas improvável milagre político dará sobrevida ao governo Temer

Pedro Ladeira/Folhapress
Deputados da oposição protestam no plenário da Câmara contra o governo do presidente Michel Temer (PMDB), em Brasília, nesta terça
Deputados da oposição protestam no plenário da Câmara contra o governo do presidente Michel Temer (PMDB), em Brasília, nesta terça

O governo de Michel Temer (PMDB), como o conhecíamos, acabou. Se irá sobreviver em alguma forma desidratada, isso é cada dia mais improvável, embora o Planalto ainda tenha musculatura para prolongar sua agonia.

Mas não o suficiente para chegar até 2018. Para isso, seria preciso um improvável milagre político. Apenas uma avalanche de avanços inquestionáveis no Congresso, com a aprovação em bloco de MPs e das reformas trabalhista e previdenciária, salvaria o pescoço do peemedebista aos olhos de sua base e dos agentes econômicos que ainda estão com ele.

Não deve acontecer. E mesmo a tal redenção duraria até o próximo tijolo a ser removido das bases do edifício governista pela Operação Lava Jato.

Esse é o maior óbice à tática de Temer ao lidar com a crise. Não adianta lutar contra a validade jurídica do áudio que pelo visto foi editado de sua conversa com o delator Joesley Batista: politicamente, a parte clara da conversa e o encontro em si, além de outras acusações em apuração, valem como epitáfio de governabilidade.

Se não houvesse a ameaça constante de novas revelações, e o Planalto obtivesse inequívoca demonstração de apoio no Congresso, talvez fosse possível manter a pinguela -melhor expressão criada por Fernando Henrique Cardoso em anos- de pé. Nada indica que será, salvo surpresas.

Agora, é esperar as maquinações dos aliados até a votação da cassação de Temer no TSE, que do dia para a noite virou de tábua de salvação para patíbulo do governo. Enquanto isso, veremos bruxarias como sugestão de uma Constituinte no que vem: isso é prenúncio de tentativa de acordões ou anistias de enrolados na Lava Jato.

De seu lado, à oposição personificada no PT só restará fazer barulho contra o pleito indireto previsto na Constituição. O partido foi dizimado na esteira do petrolão e do desastre pontificado por Dilma, e sabe que apenas uma eleição direta agora poderia mantê-lo vivo na figura de Luiz Inácio Lula da Silva.

Se o ex-presidente ganharia num segundo turno, é outra história, e as perspectivas são ruins para ele. Pior talvez seja ganhar: o Brasil teria mais um mandatário na arena da tauromaquia política com as "banderillas" da Lava Jato pregadas às suas costas, sangrando escândalo atrás de escândalo e perigando morrer.

Para sorte daqueles que tentam montar o arcabouço do pós-Temer na maioria congressual vigente, PSDB à frente, as "ruas" ainda estão tranquilas -o discurso por diretas não colou. Como diz um alto tucano, contudo, uma solução rápida e sensata se faz necessária, pois "num dado momento, a rua vai vir".

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Não é nada menos do que um crime o vazamento do grampo da conversa entre a investigada Andrea Neves e o jornalista Reinaldo Azevedo. A lei é clara: se não diz respeito aos fatos apurados, descarte-se a evidência. Não é de hoje que os investigadores da Lava Jato, de resto operação vital para o país, demonstram a incompreensão do papel de seus críticos.

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Na semana passada, havia deixado um recado aqui sobre minha ausência devido a viagem de trabalho. Por motivos óbvios de noticiário, ela foi adiada.


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