Folha de S. Paulo


Salvem os fumantes

BRASÍLIA - Em abril de 2009, escrevi neste espaço um lamento pela rigidez da lei antifumo imposta pelo governo paulista à época. Fui devidamente espinafrado como um dinossauro insensível e tachado de advogado das empresas de tabaco.

Nesta quarta, poucos anos depois, restrições análogas valerão para todo o país, depois de serem adotadas em vários Estados. É inexorável.

Como em 2009, sigo na crença de que é preciso acabar com o fumo passivo, que mata estimados 10% de todas as vítimas do cigarro.

Acho que propagandas devem ser reguladas ou talvez até banidas, ainda que isso seja discutível. Pacotes de cigarro podem ter embalagens genéricas, como é tentado aqui e ali. Impostos altos são armas para bancar o ônus ao sistema de saúde e as campanhas educativas.

Não acredito, contudo, que estigmatizar o fumante seja razoável. A proibição radical a fumódromos válida agora, algo que parece pouco racional, é apenas o primeiro passo.

Como escrevi lá atrás, do jeito que vamos acabaremos numa música do Radiohead ("Mais saudável e mais produtivo/um porco/numa jaula/usando antibióticos").

Vício sempre haverá. Fico feliz em não ter o cigarro entre os meus, mas prefiro um mundo no qual o Estado não tenha amplos poderes sobre como aplaco minha angústia ou tenho prazer, respeitados logicamente aí os limites do próximo.

Meta do ativismo, o banimento total é inócuo e, como a Lei Seca americana ensinou, leva a banditismo quando vale para hábitos arraigados; não se advoga aqui, porém, a liberação de todas as drogas.

Sempre que esse tipo de higiene social triunfa sob aplausos, lembro de um dos primeiros países a atacar frontalmente o tabagismo: a Alemanha de Hitler. Como dissecou bem Peter Cohen em "Arquitetura da Destruição", o melhor documentário já feito sobre o nazismo, eles só visavam "melhorar o mundo".


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