Folha de S. Paulo


Carta do Lobo Mau

Nunca fui mau. Na verdade, eu era um ator. Quando descobri que não ia conseguir, decidi que ia ser uma lenda, que os livros contariam as minhas aventuras.

Alguns porcos, que não sabiam nem prender um quadro na parede, resolveram construir cada um uma casa! Como eu era o dono do terreno, fui falar com eles, pois construíram as três casas ilegalmente, sem minha permissão.

–Deixe-me entrar!

Foi então que...

–Acho que vou espirrar!

Devem ter pensado que eu os estava ameaçando. Foi a hora que lembrei que tinha feito parkour, subi no telhado e desci pela chaminé. Eles me denunciaram para a polícia, com a queixa de invasão de domicílio.

Antes de ir para a prisão, me levaram para o hospital para ver se eu tinha me machucado e parava de chorar.

Já que os lobos têm fama de serem maus, o que eu acho um verdadeiro absurdo, não tive muita sorte com o juiz. Depois de dez anos na prisão, não teve jeito: comecei a ter fama de mau mesmo. Agora tenho 50 anos.

Assinado: Lobo Mau.

Pedro Coelho

ELISA BRODBECK, 9, colunista da "Folhinha"


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