Folha de S. Paulo


Tempo de novos desafios

Desde que a família Folha me abraçou, em fevereiro de 2016, como seu colunista e me confiou nobre espaço no caderno "Mundo", procurei proporcionar ao leitor uma visão analítica dos problemas do mundo contemporâneo, matizando, cuidadosamente, conteúdos de enorme complexidade como os de Oriente Médio, geopolítica mundial e política externa brasileira.

Imbuído de espírito apaixonado por aquilo que considerava ser minha missão, a de bem informar o cidadão, busquei talhar meus textos com esmero e cuidado para não ferir a transparência e a qualidade do debate público e democrático.

Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados/Divulgação
O professor Hussein Kalout, pesquisador de Harvard, passa a ser secretário de Assuntos Estratégicos
O professor Hussein Kalout, pesquisador de Harvard, passa a ser secretário de Assuntos Estratégicos

Temas candentes e apimentados mereceram meu mais zeloso cuidado, como a questão israelo-palestina, islamismo, terrorismo, EUA, América do Sul, dentre tantos outros. A sensibilidade de certos assuntos me compelia a adotar o equilíbrio como chave mestra para retratar, sem titubeios, a realidade dos problemas, sem proselitismo ou narrativas falseadas.

Ao todo, foram, com esta, 27 colunas e mais algumas reportagens especiais. Espero, humildemente, ter contribuído para dar mais densidade ao debate sobre temas de política externa no Brasil.

Quis o destino que a minha passagem fosse curta, porém muito intensa e repleta de aprendizados. Da mesma forma que critiquei, recebi críticas, elogios, sugestões e conselhos dos mais variados setores da sociedade e do Estado. Levo isso como um dos maiores ensinamentos.

Em breve, assumirei o desafio de auxiliar o país a pensar quais devem ser suas opções estratégicas mais prementes. Não se trata de reinventar a roda, mas de incutir um pensamento estratégico perene no coração do poder estatal e colocar a serviço do Estado brasileiro, do governo e da sociedade o meu conhecimento e minha experiência.

O Brasil é jovem gigante que está aprendendo a lidar com o peso de sua própria envergadura. Apesar de alguns percalços, o país avançou muito nas últimas décadas. Não obstante, o potencial é para mais. Os eixos primordiais precisam ser pensados de forma suprapartidária e a partir de plataforma integrada.

Em tempos conturbados na política internacional, o cardápio de opções será farto para o jornalismo. O futuro da Síria, o reposicionamento do poder da Rússia em variados tabuleiros, o antagonismo sino-americano, os desafios da UE, enfim, as incertezas não deixarão de proporcionar cenários e conjunturas a que devemos estar atentos.

Ao leitor da Folha, eu havia preparado dois textos especiais para serem publicados ainda no primeiro semestre. Um deles trata dos 50 anos da Guerra dos Seis Dias, de junho de 1967, e o outro diz respeito aos bastidores da estratégia de Henry Kissinger, focada em abreviar a influência soviética sobre o governo de Anwar Al-Sadat e atrair Egito e Israel a um diálogo de paz.

Ambos os textos retratam a arquitetura da segurança coletiva do Oriente Médio como a conhecíamos, pois essa arquitetura está em desintegração, e uma nova está construção —mais à frente serão publicados, quiçá, no espaço de opinião.

Sentirei imensa saudade de escrever as colunas. Era o meu refúgio. Era a forma mais sincera de coletivizar e compartilhar meus mais íntimos pensamentos teóricos, intelectuais e analíticos. Despeço-me de você, caro leitor, com o desejo de um dia voltar a este nobre e democrático espaço.

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Obrigado a todos os amigos da família Folha! Por favor, aceitem a minha mais sincera gratidão.


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