Folha de S. Paulo


A geopolítica da eleição nos EUA

A corrida presidencial americana adentra uma etapa de importantes definições. Apesar de temas quentes como diplomacia e defesa não terem sido explorados, ainda, com amplitude, pode se depreender pela retórica e pelo perfil dos candidatos favoritos nas prévias partidárias que a política exterior dos EUA, no próximo governo, será mais intervencionista e seletivamente pragmática.

Essencialmente, o epicentro da política externa americana estará sobre quatro eixos: Oriente Médio, Ásia, fortalecimento da coesão transatlântica (Otan) e expansão de interesses comerciais.

Contudo, o Oriente Médio será a arena mais complexa da perspectiva estratégica para qualquer um dos postulantes à Casa Branca. O conflito na Síria está em compasso de hibernação. O bloco pró-saudita seguirá torpedeando qualquer iniciativa de negociações à espera de uma mudança em favor dos republicanos com vistas a alterar o status quo.

Os renitentes pontos de tensão entre o Hizbullah e Israel e o colapso do processo de paz israelo-palestino, com a corrente onda de violência nos territórios ocupados, tendem a demandar do novo líder um conjunto de medidas austeras e equilibradas –o que, parece, nenhum dos candidatos é capaz de auferir.

Ademais, o futuro presidente dos EUA terá que lidar com a realidade da guerra fria entre sauditas e iranianos e seu impacto sobre a ordem regional. Nesse caso, o pêndulo diplomático dos republicamos tende a se inclinar para a Arábia Saudita, com implicações negativas no diálogo iniciado pelo governo Obama com Teerã e, consequentemente, na implementação do acordo nuclear.

Riad, Ancara e Tel Aviv apostam na nova topologia política nos EUA para reequilibrar o jogo de poder no Oriente Médio e reorganizar a relação com Washington, à espera de um líder mais afeito à força e de perfil mais confrontador com a Rússia.

Seja a democrata Hillary Clinton ou qualquer um dos favoritos republicanos –Donald Trump, Ted Cruz ou Marco Rubio–, todos tendem a adotar uma retórica picante em matéria de política externa e segurança internacional, exibindo o poderio norte-americano para projetar firmeza à frente da Casa Branca.

Embora política internacional seja o amuleto mais forte da ex-secretária de Estado Hillary Clinton, ante os demais candidatos, este é, também, seu calcanhar de Aquiles.

A democrata errou em cada tema sobre o qual se posicionou nos últimos 15 anos envolvendo o Oriente Médio: apoiou a guerra de George W. Bush no Iraque, arquitetou a intervenção armada na Líbia, incentivou Obama a atacar a Síria e obstruiu sistematicamente o diálogo no acordo nuclear com o Irã.

Já a política externa de Trump seria caracterizada pela islamofobia.

Cruz reviveria parte da máquina burocrático-militarista de Bush. Rubio seguiria Cruz, e seu governo seria dominado pelo establishment republicano vinculado à trilogia reaganiana: poder, guerra e petróleo.

A bússola médio oriental dos postulantes à Presidência da maior potência mundial não é alentadora.

A conjuntura regional tem tudo para piorar. O mérito da política externa de Obama foi saber escolher as batalhas certas para vencer no Oriente Médio.


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