Folha de S. Paulo


De freio a motor

Depois de mais uma semana de crise no país, que conjugou episódios policiais e políticos agudos com dados de aumento no desemprego e maior incerteza sobre a aprovação das medidas fiscais no Congresso, é importante chamar a atenção à mudança na política econômica na Argentina, nosso maior parceiro comercial.

Logo depois de eleito presidente argentino, Mauricio Macri anunciou o desejo de reforçar as relações comerciais com outros países e especialmente com o Brasil. Essa abertura deve não só fortalecer o Mercosul como aumentar a inserção da região nas correntes mundiais de produção e comércio, gerando benefícios amplos na medida em que cada país pode se especializar em partes da cadeia produtiva nas quais é mais eficiente e importar componentes mais baratos e de maior qualidade, possibilitando aumento das exportações.

A Argentina nos últimos anos insistiu numa política oposta, de fechamento, impondo restrições às importações e controles cambiais que geraram dificuldades econômicas e reduziram seu desenvolvimento. Essas medidas ao final tiveram efeito contrário ao declarado objetivo de estimular a indústria, pois o país passou a depender ainda mais da exportação de produtos básicos e de baixo valor.

Agora Macri fala em modernização da economia, eliminação do intervencionismo estatal excessivo, funcionamento mais livre dos mercados e abertura ao Brasil. Se levadas a termo, essas medidas criarão oportunidades importantes, com aumento da escala e da competitividade global dos dois lados da fronteira.

Paralelamente, a Argentina, ao contrário dos últimos anos, pode ser importante vetor de abertura comercial no âmbito do Mercosul, destravando acordos com outras regiões, antes contestados de forma agressiva por Buenos Aires.

Não faltarão divergências naturais nesse caminho bilateral, mas é importante que o Brasil use essa oportunidade para aumentar o comércio com a Argentina e também com o resto do mundo. Se não, corremos o risco de perder o bonde da história e a oportunidade de elevar a nossa presença nas cadeias produtivas mundiais, como vimos recentemente na criação de um novo bloco internacional, o Tratado Transpacífico (TPP), que aglutinou
parceiros relevantes do Brasil na região andina com os EUA, o Japão e outros países asiáticos.

A virada na orientação da política econômica na Argentina, portanto, além de ser fator determinante no cenário interno do país ao eliminar distorções e restrições ao funcionamento dos mercados, pode também ser fundamental para as relações comerciais do Brasil uma vez que o país vizinho poderá agora funcionar não mais como freio, mas como motor de crescimento e abertura regionais.


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