Folha de S. Paulo


Sinais trocados

No início deste ano, já era possível notar sinais de que o mundo estava voltando ao seu "velho" normal. Depois de alguns anos em que as economias emergentes puxaram o crescimento mundial e pareciam ter se transformado na locomotiva do planeta, os EUA e países europeus recuperavam seu vigor enquanto China, Brasil, Rússia, África do Sul e outros emergentes desaceleravam fortemente.

O que era uma tendência meses atrás, hoje é realidade.

Nesta semana, o Fed (Banco Central dos EUA) deu o mais forte sinal de que elevará os juros proximamente, indicando com clareza a consolidação do crescimento da maior economia do mundo.

O índice de intenção de compra dos administradores de empresas, por exemplo, importante medida da taxa de crescimento, chega a 55 nos EUA. A taxa neutra desse índice é de 50. No Brasil, em recessão, ele está em 42. Na Europa, atinge surpreendentes 53,9.

A tendência da taxa de crescimento nos EUA é de 2,5%, bom patamar para a maior economia do mundo. No Reino Unido, passa de 2,5%. Na Espanha, chega a 3,2%.

Já entre emergentes, o crescimento encolhe. A grande preocupação é com a China, a segunda maior economia do mundo. O país tem crescido a taxas altas baseadas na grande disponibilidade de mão de obra, poupança e investimento. Sua economia tirou partido de um governo forte que conduziu investimentos maciços por longo período. Mas depois de anos de elevada expansão do PIB e alto intervencionismo estatal (como no caso da agora revertida política de filho único, que teve e terá consequências econômicas graves), começa a emitir sinais de desaceleração mais forte.

Analistas preveem crescimento muito inferior à meta oficial de cerca de 7%. Alguns, analisando dados mais confiáveis da economia chinesa como exportações e importações, projetam até taxas de 3% a 4%, algo impensável pouco tempo atrás.

Em resumo, enquanto as economias mais desenvolvidas encontram caminhos sustentáveis de crescimento, os emergentes desaceleram ou, nos piores casos, como o do Brasil, até retrocedem.

Esse novo retrato mundial mostra como o nosso desenvolvimento econômico só será sustentável com responsabilidade fiscal e reformas básicas da economia visando maior produtividade e competitividade, tanto no ambiente macroeconômico quanto dentro das empresas. Foi o que aconteceu nos EUA, no Reino Unido e na Espanha, três dos países mais afetados pela crise de 2008.

Suas experiências bem sucedidas de recuperação de crescimento sustentável mostram como nós podemos voltar a crescer a taxas robustas e sustentáveis desde que todas as ações necessárias sejam implementadas.


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