Folha de S. Paulo


O custo do rebaixamento

Durante décadas o Brasil enfrentou problemas com credores internacionais para financiar sua dívida, com frequentes calotes e renegociações.

A estabilidade econômica iniciada em meados dos anos 1990 e consolidada na década passada teve uma série de consequências positivas, como o forte crescimento, a queda da dívida pública e o aumento das reservas internacionais.

O ano de 2008 foi fundamental nessa evolução. O Brasil tinha se tornado credor líquido internacional (o total de reservas superava o total da dívida externa pública e privada), a economia crescia forte e a dívida pública cadente atingia níveis confortáveis.

Tudo isto foi reconhecido pelas agências globais de avaliação de risco. A Standard & Poor's foi a primeira a nos conceder o grau de investimento, uma chancela da capacidade do país de honrar suas dívidas.

Aquele foi um momento histórico. O Brasil abandonava longo período de instabilidade fiscal, cambial e monetária e começava a fazer parte do mundo civilizado, financeiramente falando.

Esse grande avanço, por exemplo, permitiu que a reação do Brasil à crise global de 2008 fosse precisa e eficaz, com retorno rápido da confiança.

Apesar da crescente piora da situação fiscal nesta década, muitos receberam com certo choque a notícia de que a mesma Standard & Poor's não só retirou o grau de investimento do Brasil como colocou a nossa avaliação em viés negativo.

Mais duro ainda foi a agência dizer que o governo brasileiro não mostra capacidade nem vontade de tomar as medidas para resolver os problemas do país. Essa curta colocação reflete o pensamento de muitos analistas, políticos e econômicos. Se faltasse capacidade ou vontade, já seria muito difícil. A visão de que faltam os dois é muito pior.

O clima na noite de quarta-feira foi de Deus nos acuda, com expectativa de grandes quedas nos mercados no dia seguinte ao rebaixamento, o que acabou não ocorrendo.

Isso não significa, porém, que o fato não foi tão grave ou custoso. Os mercados só não reagiram de forma ainda pior porque eles já haviam antecipado o fato, como costumam fazer em relação aos movimentos tanto de piora quanto de melhora dos fundamentos econômicos.

O rebaixamento vai, na realidade, custar muito caro. Os juros pagos pelos títulos brasileiros no exterior, públicos ou privados, aumentarão e puxarão as taxas internas, acentuando as perspectivas de recessão neste e no próximo ano.

Em resumo, é a força do livre mercado em funcionamento.

Compete ao Brasil agora tomar todas as medidas necessárias para de fato reverter a tendência da dívida pública de atingir patamares acima de 70% ou mais, o que poderá gerar custos muito mais elevados.


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