Folha de S. Paulo


Crise criada

Muitos se surpreenderam com a desaceleração da economia mundial depois da saída gradual da crise. Por isso é importante analisar a real dinâmica de sua evolução e dos ajustes na economia global.

A crise teve até aqui três fases. A primeira foi o colapso do crédito nos EUA, particularmente no mercado imobiliário, com reflexos graves na atividade produtiva e no emprego. Os EUA reagiram rapidamente, com medidas drásticas no setor financeiro e políticas fortes de estímulos fiscais e monetários. Os estímulos fiscais foram interrompidos faz algum tempo, e os monetários, adotados posteriormente, começam a ser gradualmente retirados.

A segunda fase da crise foi a europeia. A Europa demorou um pouco mais para reconhecer e enfrentar o problema, que atingiu principalmente os mercados de dívida pública e privada nos países do sul do continente. A saída europeia está sendo mais lenta, com características diversas em cada país refletindo a diversidade da região.

Estamos agora na terceira fase da crise –a desaceleração dos emergentes. Esses países entraram na crise em melhores condições, mas, como não fizeram os ajustes necessários nas primeiras duas fases, os estão fazendo agora, particularmente a China.

É notável que grande parte dos desequilíbrios dos emergentes foi construída já no pós-crise dos países ricos. A China, por exemplo, sofreu muito com a crise nos EUA e na Europa via queda das exportações e, em resposta, promoveu política contracíclica que gerou expansão insustentável do crédito, agora enfrentada. A Rússia enfrenta problemas graves por causa da dependência do petróleo e das sanções econômicas do Ocidente.

O Brasil, quando foi atingido pela crise externa, apresentava excelentes condições, com economia forte, equilibrada e em expansão. Diante do impacto brutal do colapso do crédito internacional, foram tomadas medidas rápidas, fortes e precisas que, graças ao estado robusto da economia, nos tiraram da crise já no final de 2009 e em 2010.

Mas desequilíbrios foram desenvolvidos posteriormente e, agora, estamos no ciclo dos demais emergentes de correção dos problemas no pós-crise. Portanto, o baixo crescimento recente passa pelas questões fiscais já diagnosticadas pela nova equipe econômica, pela inflação e pela queda da confiança que contraiu os investimentos.

O momento é de ajuste. Se as mudanças necessárias na política econômica forem executadas plenamente e implementadas juntamente com reformas para aumentar o investimento e a produtividade, elas podem reequilibrar a economia e levar o país de volta ao crescimento e ao desenvolvimento socioeconômico, com benefícios diretos a todos.


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