Folha de S. Paulo


O país do sol renascente

Em debate recente sobre a Espanha, questionou-se a viabilidade de um país sair da crise e equacionar o problema da dívida pública sem cres- cer, uma vez que políticas de austeridade levam à contra- ção econômica e podem piorar o nível de endividamen- to dos países.

A resposta é não. Não é possível sair da crise sem crescer.

O problema na Espanha é a falta de alternativa, já que em países-membros de um bloco de moeda única não há a alternativa de tornar as exportações mais competitivas via desvalorização cambial. E em muitos países não há mais como seguir elevando a dívida para financiar uma economia de baixa produtividade. O único caminho nesse ambiente é uma recessão, que gera redução de custos.

Portanto, é um caminho penoso, extremamente destrutivo, mas pelo qual a Espanha restaura competitividade e condições de crescer numa economia mais produtiva.

E a lenta trajetória de estabilização europeia, lidera- da pela Alemanha e por países do norte que fizeram re- formas na década passada, tem agora que levar em conta o renascimento do Japão. O gigante adormecido, terceira maior economia do mundo, está acordando.

O Japão cresceu por décadas estimulado por endividamento bancário excessivo. A crise da dívida dos anos 1990 quebrou o sistema financeiro japonês, mas o governo evitou tomar medidas para fazer com que os bancos assumissem os prejuízos, mudassem a gestão e restaurassem sua capitalização para voltar a emprestar e reativar a economia, como os EUA fizeram com seus bancos.

O Japão tem duas décadas de bancos zumbis, sem ca- pacidade de emprestar. O crédito encolheu e houve deflação constante.

O banco central japonês anunciou, na quinta-feira, a adoção de medidas para acabar com a deflação e aumentar o dinheiro em circu- lação (sim, uma inflação negativa pode ser tão destrutiva quanto uma inflação acima da meta).

O renascimento japonês pode ter consequências profundas na economia mundial. O país tem vantagens competitivas importantes. Sua máquina de produção industrial, muito eficiente e produtiva, está intacta. Com o retorno do crescimento e a desvalorização da sua moeda, volta a competir no mercado mundial de forma agressiva. E a indústria japonesa compete diretamente com a indústria alemã, motor da economia europeia.

Aprendemos, nesse processo, que crises monetárias ou de crédito devem ser enfrentadas de forma direta, forte e rápida, e que nada substitui a produtividade no longo prazo. E, restaurada a demanda, as medidas de estímulo devem visar o aumento da competitividade. É uma boa lição para o Brasil.

HENRIQUE MEIRELLES escreve aos domingos nesta coluna.


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