Folha de S. Paulo


Com amônia, cabeleireiros revertem o cabelo espichado pela progressiva

Algo diferente surgiu na feira de cosméticos Beauty Fair desse ano. No meio da enxurrada de alisantes, um "removedor de progressivas" chamou atenção.

O nome é mais inovador do que o produto dentro do pote: tioglicolato de amônia. Substância muito usada para fazer permanente (anos 80 mandam um beijo) e mesmo para alisar (antes da febre das progressivas com formol).

"O formol é ácido e a amônia, alcalina. Nós colocamos o produto na raiz que está virgem e ele desce pelo meio do fio, expandindo a fibra capilar e rompendo a capa criada pelo formol", explica Robson Trindade, que já usa o tratamento da Bien Professional no seu salão, Red Door.

O cabeleireiro explica que as escovas com formol não alisam, mas sim encapsulam o fio e por isso deixa o fio reto.

O trabalho com o "removedor de progressivas" é extremamente delicado. A amônia deve ficar no cabelo por menos de cinco minutos. "Assim que o cabelo amolecer, tem de enxaguar, se não ele começa a alisar o fio", diz Trindade. Fora isso, a parte mais importante é fazer o teste antes de aplicar em toda a cabeça. Dependendo da quantidade de processos químicos feitos, ao aplicar a amônia o fio pode virar um chiclete ou mesmo quebrar profundamente. Veja na galeria abaixo o processo sendo feito.

PERMANENTE, EU TE AMO

O cabeleireiro Júnior Hordan já usa a amônia contra a progressiva há algum tempo. O produto usado? O velho e bom líquido de permanente aliado ao, mais velho ainda, bigudin. "Primeiro eu fiz testes em modelos e amigas próximas, para então começar a usar no salão", conta.

Hordan é um árduo defensor do permanente. Ele diz que é um trabalho delicado, quase uma arte, e que a ideia do cabelo tipo poddle é completamente equivocada. "Posso enrolar o bigudin ou um roller maior, consigo criar cachos da forma que eu quiser", diz.

A arma tem sido uma boa aliada para as mulheres que querem deixar de vez o esticado da progressiva. Mas, como não se pode querer tudo, se o fio tiver sido descolorido e alisado, ele não vai aguentar o permanente.

"Isso (descolorante + progressiva) é um erro comum nos salões. O profissional descolore, não usa nenhum hidratante para repor a massa perdida com o descolorante, e passa o formol por cima para selar e dar brilho, mas no núcleo, o cabelo já vai estar morto", explica Hordan.

Outra contraindicação: os alisantes a base de carbocisteína. "Os meus testes deram certo com as progressivas e 'botoxes' que tem formol na base. Mas o fio quebrou com a carbocisteína." O cabeleireiro ainda estuda os motivos do fio romper.

LIMPEZA PROFUNDA

Vagner Mattos, do studio W, ficou desconfiado do removedor. "É impossível um produto tirar a progressiva, ele pode dar outra forma a partir de novas químicas", diz.

Ele conta que já conseguiu diminuir, sem mais química, os efeitos da progressiva de uma cliente arrependida. Mas era a primeira vez que ela fazia e, antes, o cabelo dela era virgem.

"Eu lavei o cabelo dela umas dez vezes com xampu antirresíduo e passei máscara hidratante outras dez vezes. E indiquei para lavar o cabelo com antirresíduo e aplicar uma máscara reconstrutora todos os dias por uma semana". Segundo Vagner, o cabelo não voltou 80% ao que era.

Para Hordan, as mulheres estão desistindo cada vez mais da escova progressiva. "Vejo algumas mulheres que querem deixar a progressiva, mas ainda não assumem os cachos. Elas param de fazer a química e ficam na escova. Quem quer deixar de vez, vai para o permanente. E muitas também vão lá e cortam curtinho".

Segundo o cabeleireiro, as mulheres perceberam que não tem nenhuma praticidade na progressiva e que ela só fica bonita na primeira vez. "Depois o fio fica espichado e precisa usar o secador e a chapinha para virar as pontas."


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