Folha de S. Paulo


Dá para ser ético com animais?

Adriano Vizoni - 5.nov.2016/Folhapress
Vaquejada Dom Roxão, que acontece em Garanhuns, no sertão pernambucano, com cerca de mil vaqueiros
Vaquejada Dom Roxão, que acontece em Garanhuns, no sertão pernambucano, com cerca de mil vaqueiros

Se você é um ser humano com bons sentimentos, provavelmente se opõe à vaquejada, uma forma de exploração animal que, embora não resulte na morte do bovino, estressa-o e pode feri-lo. Mas, se somos contra a vaquejada, como admitimos o hambúrguer?

Se você é um ser humano decente e tem um gatinho, deve deixá-lo brincar no quintal. Mas, como gatos são caçadores recreativos, as voltinhas dos felinos nos quintais têm um custo em vidas. Nos EUA, com 94 milhões de gatos domésticos, estima-se que, a cada ano, meio bilhão de pequenos animais como pássaros sejam vitimados pelos instintos assassinos de nossos pets. Mesmo quando informada da escala do genocídio, a maior parte dos donos de gatos diz que não prenderia o bichano.

Questões como essas são exploradas por Hal Herzog no delicioso "Some We Love, Some We Hate, Some We Eat" (alguns nós amamos, alguns odiamos, alguns comemos). Recorrendo a um bom "blend" de pesquisas científicas e histórias envolvendo humanos e não humanos, ele nos lança no campo da antrozoologia, a nova ciência que procura entender as interações entre pessoas e bichos.

O rol de curiosidades que o livro oferece é inesgotável. Ter um animal é bom para a saúde? Cachorros realmente se parecem com seus donos? Andar com um cão aumenta suas chances de conseguir um(a) namorado(a)? Por que há três vezes mais ex-vegetarianos do que vegetarianos?

É no campo da ética, porém, que as perguntas ficam cabeludas. Quais são nossas obrigações para com animais? Podemos mantê-los como pets? Utilizá-los em experiências científicas? Comê-los? Matá-los para evitar zoonoses? E se for para nossa diversão, como nas rinhas de galo?

A conclusão a que Herzog chega é inequívoca: a única consistência na forma como nos relacionamos com animais é a inconsistência. Qualquer que seja a posição ética que adotemos, ela levará a paradoxos.


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