Folha de S. Paulo


Um moderado radical

Ahn Young-joon - 10.ago.2017/Associated Press
FILE- In this Aug. 10, 2017, file photo, a man watches a television screen showing U.S. President Donald Trump, left, and North Korean leader Kim Jong Un during a news program at the Seoul Railway Station in Seoul, South Korea. America's annual joint military exercises with South Korea always frustrate North Korea. The war games set to begin Monday, Aug. 21, 2017 may hold more potential to provoke than ever, given Trump's
Programa de TV sul-coreano mostra o presidente dos EUA e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un

SÃO PAULO - Em tempos de Donald Trump, Nicolás Maduro, Rodrigo Duterte, Viktor Orbán, é legítimo perguntar onde foi parar a moderação. Hoje ela parece uma virtude esquecida ou, pelo menos, relegada a um centro político cada vez menos saliente. Não é que careçamos de grandes nomes que possam ser carimbados como moderados. Para ficar apenas nos teóricos, eles incluem Aristóteles, Montesquieu, Hume e Tocqueville. O problema é que a moderação nunca chegou a firmar-se como um conceito autônomo ou como parte de uma tradição política digna de ser cultivada.

É para mudar isso que o cientista político Aurelian Craiutu (Universidade de Indiana) escreveu "Faces of Moderation" (faces da moderação), no qual tenta entender os motivos da baixa popularidade da moderação (ela tende a ser vista como um refúgio para os fracos e indecisos) e busca definir melhor o conceito.

Para tanto, traça os perfis de cinco autores que considera moderados, alguns mais à esquerda, casos de Norberto Bobbio e Adam Michnik, e outros mais à direita, situação de Raymond Aron, Isaiah Berlin e Michael Oakeshott, e procura identificar características em comum, como o antidogmatismo, a flexibilidade e a aceitação de contradições.

"Faces" é um livro interessante, mas que tem dois senões: o estilo excessivamente acadêmico torna a leitura maçante, e a edição tem um preço bem salgado. Mas, como eu penso que Craiutu levanta uma questão fundamental, vale a pena destacá-la aqui. Ainda que estejamos vivendo uma era que parece desprezar a moderação, ela constitui um dos alicerces dos regimes democráticos, que só podem funcionar se os atores políticos mais relevantes aceitarem a lógica de que não existem absolutos, isto é, de que pontos de suas plataformas podem ser negociados e que é preciso buscar soluções de compromisso. Sem essa disposição, a própria noção de sociedade aberta corre riscos.


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