Folha de S. Paulo


Desvendando o comportamento

Cardiff University Brain Research Imaging Center (Reino Unido)
Modelo tridimensional do cérebro mostrando detalhes das conexões nervosas
Modelo tridimensional do cérebro mostrando detalhes das conexões nervosas

"Behave" (comporte-se), do primatologista e neurocientista Robert Sapolsky (Stanford), é um livro importante. E ambicioso também. O autor não pretende nada menos do que explicar o comportamento humano em todos os níveis. O mais incrível é que ele chega bem perto dessa meta. Como o assunto é complicado, o livro acabou ficando com mais de 700 páginas.

O próprio princípio organizacional da obra é um achado. Sapolsky começa mostrando o que acontece no cérebro no segundo anterior a uma ação, como abraçar uma pessoa querida ou puxar o gatilho de uma arma, e vai recuando para causas cada vez mais distais, passando pelos minutos, horas, dias, anos e até gerações que antecedem o ato. Assim, tem oportunidade de falar dos impulsos nervosos e estímulos inconscientes (segundos), hormônios (dias), neuroplasticidade (meses) recuar para a os problemas de autocontrole típicos da adolescência, os decisivos anos de formação na infância, o desenvolvimento fetal, os genes e os milênios de experiência coletiva acumulados em nossas culturas. Acho que nada ficou de fora.

Nos capítulos finais, Sapolsky explora temas que se tornaram centrais para a modernidade como o "nós contra eles", moralidade, empatia, livre-arbítrio (que ele rejeita), guerras.

Outra virtude do livro -e que ajuda a explicar sua extensão- é que Sapolsky é minuciosamente didático. Antes de desfilar os intricados nomes de estruturas cerebrais como córtex anterior cingulado, amídala, ínsula etc., ele oferece ao leitor um curso rápido de neurociência. E, só para garantir, enfiou na obra alguns apêndices nos quais se aprofunda nos mistérios das sinapses.

Sapolsky faz tudo isso com boas pitadas de humor e, principalmente, sem perder de vista as nuances e a complexidade. Se você tem alguma ideia muito firme de como o cérebro funciona, o autor vai estragá-la, mostrando que nada é tão simples.


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