SÃO PAULO - Duas características de nossas mentes facilitam a propagação do racismo. A primeira é o famoso "nós contra eles". A tendência a formar dicotomias entre grupos, favorecendo aquele ao qual pertencemos e demonstrando animosidade para com o outro nem sequer é exclusivamente humana. Ela já foi observada em outros primatas.
No caso de humanos, experimentos levados a cabo nos anos 70 por Henry Tajfel mostraram que não é preciso mais do que um critério arbitrário como preferir Klee a Kandinsky para fazer com que pessoas se dividam segundo esse parâmetro. E, uma vez divididas, passam automaticamente a cooperar mais com aqueles que partilham seu gosto pictórico, mesmo que jamais tenham visto seus rostos ou falado com eles.
O outro traço é ainda mais sombrio. Nossos cérebros, por alguma razão, são incrivelmente ligados na cor da pele. Basta exibir para alguém a foto de uma pessoa de outra raça por apenas 100 milissegundos, tempo insuficiente até para perceber conscientemente se uma imagem foi mesmo mostrada, e já será possível perceber, em exames de neuroimagem, a ativação da amídala, uma estrutura cerebral relacionada ao medo. Estudos também mostram que, quando vemos um vídeo de alguém sendo espetado por uma agulha, nossa resposta sensório-motora (que indica empatia) é menor quando a vítima pertence a outra raça.
A boa notícia é que nada disso é destino. Embora nossos cérebros apresentem características que podem ser recrutadas pelo racismo, temos também instrumentos para fugir disso. O principal é o córtex pré-frontal dorsolateral (dlCPF), que nos permite inibir conscientemente impulsos que brotam de partes mais primitivas de nossas mentes.
E nossos dlCPFs têm feito um bom trabalho, já que, em poucas décadas, passamos de um mundo em que o racismo era encorajado para um em que é energicamente rejeitado.