Folha de S. Paulo


Cérebro cooptado

Mykal McEldowney/The Indianapolis Star/Associated Press
In this photo taken Friday, Aug. 11, 2017, multiple white nationalist groups march with torches through the UVA campus in Charlottesville, Va. Hundreds of people chanted, threw punches, hurled water bottles and unleashed chemical sprays on each other Saturday after violence erupted at a white nationalist rally in Virginia. (Mykal McEldowney/The Indianapolis Star via AP) ORG XMIT: ININS102
Protesto de neonazistas e supremacistas brancos em Charlottesville, nos EUA

SÃO PAULO - Duas características de nossas mentes facilitam a propagação do racismo. A primeira é o famoso "nós contra eles". A tendência a formar dicotomias entre grupos, favorecendo aquele ao qual pertencemos e demonstrando animosidade para com o outro nem sequer é exclusivamente humana. Ela já foi observada em outros primatas.

No caso de humanos, experimentos levados a cabo nos anos 70 por Henry Tajfel mostraram que não é preciso mais do que um critério arbitrário como preferir Klee a Kandinsky para fazer com que pessoas se dividam segundo esse parâmetro. E, uma vez divididas, passam automaticamente a cooperar mais com aqueles que partilham seu gosto pictórico, mesmo que jamais tenham visto seus rostos ou falado com eles.

O outro traço é ainda mais sombrio. Nossos cérebros, por alguma razão, são incrivelmente ligados na cor da pele. Basta exibir para alguém a foto de uma pessoa de outra raça por apenas 100 milissegundos, tempo insuficiente até para perceber conscientemente se uma imagem foi mesmo mostrada, e já será possível perceber, em exames de neuroimagem, a ativação da amídala, uma estrutura cerebral relacionada ao medo. Estudos também mostram que, quando vemos um vídeo de alguém sendo espetado por uma agulha, nossa resposta sensório-motora (que indica empatia) é menor quando a vítima pertence a outra raça.

A boa notícia é que nada disso é destino. Embora nossos cérebros apresentem características que podem ser recrutadas pelo racismo, temos também instrumentos para fugir disso. O principal é o córtex pré-frontal dorsolateral (dlCPF), que nos permite inibir conscientemente impulsos que brotam de partes mais primitivas de nossas mentes.

E nossos dlCPFs têm feito um bom trabalho, já que, em poucas décadas, passamos de um mundo em que o racismo era encorajado para um em que é energicamente rejeitado.


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