Folha de S. Paulo


Guia prático da mentira

"Quatro em cada cinco dentistas recomendam Colgate." Você provavelmente já ouviu alguma variante desse tipo de anúncio de pasta de dente, mas ele é verdadeiro? Neste caso específico, a propaganda foi investigada pela agência de autorregulamentação publicitária britânica, que descobriu algumas coisas interessantes.

Tecnicamente, o dito corresponde ao resultado de uma pesquisa feita com profissionais de saúde bucal. O que a Colgate não conta é que a sondagem permitia que os dentistas recomendassem mais de um dentifrício e que o produto do principal concorrente foi mencionado quase tantas vezes quanto o do anunciante.

Todos sabemos que dá para mentir dizendo só verdades. O que Daniel Levitin faz em "Weaponized Lies" (mentiras como armas) é ensinar vários truques para engambelar o cidadão, ou, se você estiver do outro lado do balcão, para defender-se das "pós-verdades" e "fatos alternativos" que políticos, marqueteiros, publicitários, jornalistas e mesmo concidadãos possam tentar impingir-nos.

"Weaponized" pode ser descrito como um manual de pensamento crítico, com ênfase em estatística e probabilidade. Gostei em especial do capítulo em que ele mostra como mentir utilizando gráficos.

Didático, Levitin desbrava tópicos complicados, como as falácias lógicas e a inferência bayesiana, nos quais nossas intuições frequentemente falham. Faz tudo isso com muita clareza e bastante humor, sem deixar de dar exemplos práticos.

A obra fica ainda mais importante quando se considera que jovens têm problemas para navegar no mundo das afirmações baseadas em evidências. Recente estudo da Universidade Stanford com 7.800 alunos do ensino fundamental dois a universidades mostrou que eles eram consistentemente péssimos em distinguir mentiras de notícias que vinham de fontes confiáveis. O pesquisador resumiu os resultados como "sombrios".


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