Folha de S. Paulo


Deu lógica na França

Christian Hartmann/Reuters
A combination picture shows portraits of the candidates who will run in the second round in the 2017 French presidential election, Emmanuel Macron (L), head of the political movement En Marche!, or Onwards!, and Marine Le Pen, French National Front (FN) political party leader. Pictures taken March 11, 2017 (R) and February 21, 2017 (L). REUTERS/Christian Hartmann ORG XMIT: CHM54
Emmanuel Macron (esq) e Marine Le Pen, que disputam o segundo turno das eleições francesas

SÃO PAULO - Deu o esperado na eleição francesa. A candidata da extrema direita Marine Le Pen passou para o segundo turno, mas, a menos que surja um fato novo de grande impacto, deverá ser fragorosamente derrotada pelo centrista Emmanuel Macron em maio. A tal da onda conservadora que estava prestes a engolir o mundo provavelmente será, mais uma vez, desmentida.

Até acho que estamos assistindo a mudanças no comportamento dos eleitores. Minha hipótese é que a internet está interferindo na maneira como as pessoas formam suas convicções e coordenam expectativas. Vivemos tempos de maior polarização e fragmentação. Também podemos esperar movimentações mais bruscas e tardias nas pesquisas eleitorais. Mas as linhas básicas do pensamento humano e da lógica política permanecem as mesmas.

O que acaba fazendo toda a diferença nessas situações é o desenho institucional. Em qualquer conjunto suficientemente grande de eleitores, sempre haverá aqueles dispostos a uma atitude mais radical, seja pela esquerda, seja pela direita. Períodos mais longos de recessão ou estagnação econômica tendem a fazer com que o contingente de aflitos aumente. Se o sistema eleitoral permitir que minorias robustas triunfem, aventureiros e radicais têm de fato boas chances de chegar ao poder. É o que se viu no caso de Trump e, "mutatis mutandis", no "brexit". Se, contudo, a arquitetura da votação for um pouco mais sofisticada, dá para proteger a maioria contra arroubos de minorias bem articuladas. É o que o segundo turno deverá fazer na França.

A democracia é a expressão da vontade popular, mas a maneira de perguntar ao povo o que ele quer e a forma de contabilizar as respostas afetam os desfechos. Desenhos institucionais que promovam a moderação devem ser favorecidos. Não é que os radicais estejam sempre errados, mas esse tipo de saída deve ser reservado para situações extremas.


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