Folha de S. Paulo


Diversidade psicológica

Rivaldo Gomes/Folhapress,

SÃO PAULO - Deu na Folha que faculdades privadas começam a incluir em seus vestibulares uma avaliação das habilidades socioemocionais dos candidatos. O teste pode ser feito por meio de interações com atores ou de dinâmicas de grupo envolvendo os próprios concorrentes. Instituições de renome e que não têm dificuldade para atrair muitos postulantes muito preparados, como o Insper e a medicina do Einstein, já abraçaram a moda.

Não penso que esse tipo providência seja ruim. Ele é muito útil, por exemplo, para excluir malucos intratáveis, mas muito inteligentes que costumem se dar bem em provas escritas. A proliferação dessas avaliações psicológicas, porém, traz o risco de que se homogeneíze demais o perfil dos selecionados. Elas tendem a favorecer personalidades com maiores pontuações em extroversão e amabilidade, para citar apenas dois dos cinco fatores (big five) normalmente avaliados nessas situações.

É verdade que a capacidade de se comunicar bem e desenvolver um bom relacionamento com pacientes e equipe são qualidades desejáveis num médico que lide com o público. A questão é que uma boa faculdade de medicina não forma apenas clínicos mas também profissionais que atuarão em especialidades não clínicas e pesquisadores, para os quais um pouco mais de introversão e até mesmo um certo neuroticismo podem ser úteis. Raciocínio semelhante cabe para outras carreiras.

Susan Cain, em seu "O Poder dos Quietos", faz uma competente defesa dos tímidos e mostra como eles vêm sendo desvalorizados por uma cultura ocidental que enaltece cada vez mais a extroversão.

Se a diversidade social e econômica do corpo discente é um valor que as principais instituições de ensino do mundo perseguem com afinco, pelo menos igual determinação deveria ser dedicada à busca pela diversidade psicológica. Isso é algo a que as escolas precisam estar atentas.


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