Folha de S. Paulo


Negando até a morte

Mastrangelo Reino-10.nov.2016/Folhapress
Técnico manipula vacina contra a febre amarela em Ribeirão Preto (SP)

SÃO PAULO - A ciência não tem respostas para tudo. Pior ainda, se formos rigorosos, o método científico nunca "prova" uma verdade. Ele no máximo corrobora uma hipótese, o que não é muito para aqueles que estão em busca de certezas.

Ainda assim, a ciência é a melhor ferramenta de que dispomos para distinguir fatos do mundo de fantasias de nossas mentes e, em alguns casos, ela consegue oferecer evidências bastante robustas de que algo é verdadeiro. Talvez não seja o suficiente para uma demonstração matemática, mas dá com sobras para fazer apostas no mundo real e vencê-las.

Algumas dessas "verdades" científicas vêm sendo desafiadas. Uma delas é a de que vacinas salvam vidas e não provocam autismo. Outra é a de que antibióticos não tratam infecções virais, ou a de que os riscos de possuir uma arma em casa superam os eventuais benefícios.

Apesar das evidências, legiões crescentes de pais norte-americanos se recusam a vacinar seus filhos, médicos insistem em receitar antibióticos para combater vírus, e civis mantêm em casa armas que acabam sendo usadas em suicídios e homicídios.

Por que pessoas inteligentes desenvolvem crenças anticientíficas? É o que Sara e Jack Gorman (filha e pai) tentam responder em "Denying to the Grave" (negando até a morte). Sara, que é especialista em saúde pública, e Jack, que é psiquiatra, recorrem à neurociência e à psicologia para mostrar como alguns vieses humanos conspiram não apenas para nos fazer acreditar em teses que nos prejudicam como também que ainda sintamos prazer com isso.

A tendência dos cientistas de responder a essa gente com mais evidências científicas raramente funciona. Os Gorman sugerem que se tente melhorar a comunicação científica combinando evidências com algumas formas de apelo emocional que não sejam antiéticas. Duvido que funcione, mas a leitura do livro vale a pena mesmo assim.


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