Folha de S. Paulo


Temer e o feminismo

Marlene Bergamo/Folhapress
COTIDIANO - Sao Paulo - SP - Dia Internacional da Luta das Mulheres - Dois atos, das feminista e trabalhadoras e trabalhadores do ensino municipal e estadual. um saindo da avenida paulista, e outro da praça da Se se juntaram e caminharam até a Prefeitura. 08/02/2017 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017 -
Ato em São Paulo pelo Dia Internacional das Mulheres

SÃO PAULO - O pior é que o presidente Michel Temer queria elogiar o sexo oposto ao dizer as impropriedades que disse quando fez seu discurso em homenagem às mulheres na quarta (8). Não chega, porém, a ser uma surpresa constatar que ainda há pessoas que pensam dessa forma. Se não houvesse, o machismo não existiria, e as feministas já não teriam muito a dizer.

O que me incomoda no discurso de algumas alas do movimento feminista não é a constatação de que ainda não atingimos a igualdade de gênero, mas as soluções propostas para tentar resolver o problema. Não consigo ver muita lógica na ideia de que mulheres, porque representam 50% da população, devem necessariamente ocupar 50% dos cargos de chefia nas empresas ou a metade das vagas no Parlamento, por exemplo.

Defender esse tipo de meta ou mesmo cota, como fazem as mais radicais, aliás, me parece uma atitude profundamente machista, já que tira das mulheres o direito de não querer as mesmas coisas que os homens.

Tomemos o caso das chefias. Uma das explicações para o fato de não haver tantas diretoras quanto diretores é que elas, ao contrário deles, não apostam todas as suas fichas na carreira profissional, dedicando menos horas e menos energias ao trabalho para investir também em outras dimensões da vida. Se essa é uma decisão razoavelmente livre, não vejo como possa ser criticada. Eu até diria que existe sabedoria aí.

O bom combate ao machismo se faz não com a busca por resultados que nem sequer sabemos se são os desejados, mas com a remoção dos obstáculos que restam à emancipação da mulher, sejam eles jurídicos (que já se foram quase todos), materiais (como a falta de boas creches) ou culturais (processo que já está em curso, mas que é mais demorado).

Seria profundamente lamentável se o preço a pagar pelo triunfo do feminismo for o sacrifício da autonomia individual de cada mulher.


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