Folha de S. Paulo


A maldição da metafísica

SÃO PAULO - A ciência rejeita explicações mirabolantes. Gostaria de acreditar nessa frase, mas, infelizmente, tanto o mundo como a epistemologia são um pouco mais complicados do que desejaríamos.

Como ensina o filósofo da ciência Alex Rosenberg, não é tão fácil separar a ciência da filosofia, na qual estão necessariamente incluídas questões que não são passíveis de testes empíricos. Sempre que uma disciplina se torna científica, emancipando-se da filosofia —como foi o caso da física com Isaac Newton no século 17—, ainda deixa em aberto uma série de questões de cunho mais metafísico.

Um bom exemplo de quão inescrutavelmente metafísica pode ser a ciência está numa de suas teorias de maior sucesso: a gravitação universal, proposta pelo próprio Newton. O físico inglês não deu ao conceito de gravidade um tratamento filosófico detalhado. E nem poderia. Não são poucos, afinal, os problemas suscitados por uma força invisível que age instantaneamente sobre objetos que podem estar a bilhões de quilômetros de distância um do outro. Numa análise fria, essa é uma ideia que não fica nada a dever para as mais bizarras teorias "new age" de telecinesia.

É só com Einstein que o mistério ontológico em torno da gravidade começa a se dissipar —e ainda assim só um tiquinho. Ela deixa de ser pensada como uma força de atração e passa a ser vista como uma curvatura no espaço-tempo. Imagine uma bola de boliche no meio de um colchão. Ela o afunda, criando uma deformação. Se você soltar uma bolinha de gude nas proximidades da de boliche, a pequena vai rolar em direção à grande. A gravidade são essas distorções no contínuo do espaço-tempo.

O problema é que, de novo, você pode se perguntar pelo significado mais profundo desse "contínuo de espaço-tempo". A moral da história é que, por mais que tentemos, não conseguimos nos livrar da filosofia com tudo de metafísico que ela tem.

PS - Dou 15 dias de férias ao leitor.


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