SÃO PAULO - O presidente Michel Temer disse que não está preocupado com seus índices de aprovação. Isso é bom ou mau para o país?
A popularidade desempenha um papel complexo nas democracias. Ela é a principal régua pela qual decisões são tomadas. Governos que fazem coisas boas têm aprovação e são reeleitos. Governos que cometem erros sofrem rejeição e são defenestrados. A tendência é que, numa imitação capenga da seleção natural, os dirigentes mais ineptos sejam eliminados do pool de candidatos viáveis.
No mundo real, porém, as coisas são mais difíceis. Quando as democracias definem a extensão dos mandatos (e não há como não fazê-lo), fixam também o horizonte das ações dos governantes. Se o mandato tem quatro anos, os políticos trabalharão para que os frutos de sua administração maturem no quarto ano que, não por acaso, é aquele em que ele próprio ou alguém de seu grupo político poderá ser reconduzido ao cargo.
Não há nada de intrinsecamente errado aí. O problema é que nem tudo que é relevante para um país ocorre nessa escala de tempo. Há políticas que podem exigir décadas antes de mostrar resultados. É o caso, por exemplo, de certos investimentos em educação e mesmo das reformas previdenciárias, que, aliás, só trazem desgaste nos primeiros anos.
Democracias maduras resolvem isso ao definir políticas de Estado que se tornam suprapartidárias e transcendem a esta ou aquela administração. No Brasil, esse movimento é menos que incipiente.
Isso significa que Temer, por não perseguir a popularidade (na verdade, ele não teria tempo de obtê-la), conseguirá entregar as reformas impopulares de que o país precisa? Eu não iria tão longe. Há muitos interesses e um número ainda maior de incertezas que conspiram contra o ajuste. Diria apenas que, se Temer estivesse atrás da reeleição, aí sim teríamos a certeza de o populismo reinaria, e o fracasso seria a decorrência