Folha de S. Paulo


Em busca da impopularidade

Alan Marques - 10.nov.2016/Folhapress
O presidente da República, Michel Temer, participa da reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, na sala de reuniões do Palácio do Planalto
O presidente da República, Michel Temer, em reunião no Palácio do Planalto

SÃO PAULO - O presidente Michel Temer disse que não está preocupado com seus índices de aprovação. Isso é bom ou mau para o país?

A popularidade desempenha um papel complexo nas democracias. Ela é a principal régua pela qual decisões são tomadas. Governos que fazem coisas boas têm aprovação e são reeleitos. Governos que cometem erros sofrem rejeição e são defenestrados. A tendência é que, numa imitação capenga da seleção natural, os dirigentes mais ineptos sejam eliminados do pool de candidatos viáveis.

No mundo real, porém, as coisas são mais difíceis. Quando as democracias definem a extensão dos mandatos (e não há como não fazê-lo), fixam também o horizonte das ações dos governantes. Se o mandato tem quatro anos, os políticos trabalharão para que os frutos de sua administração maturem no quarto ano que, não por acaso, é aquele em que ele próprio ou alguém de seu grupo político poderá ser reconduzido ao cargo.

Não há nada de intrinsecamente errado aí. O problema é que nem tudo que é relevante para um país ocorre nessa escala de tempo. Há políticas que podem exigir décadas antes de mostrar resultados. É o caso, por exemplo, de certos investimentos em educação e mesmo das reformas previdenciárias, que, aliás, só trazem desgaste nos primeiros anos.

Democracias maduras resolvem isso ao definir políticas de Estado que se tornam suprapartidárias e transcendem a esta ou aquela administração. No Brasil, esse movimento é menos que incipiente.

Isso significa que Temer, por não perseguir a popularidade (na verdade, ele não teria tempo de obtê-la), conseguirá entregar as reformas impopulares de que o país precisa? Eu não iria tão longe. Há muitos interesses e um número ainda maior de incertezas que conspiram contra o ajuste. Diria apenas que, se Temer estivesse atrás da reeleição, aí sim teríamos a certeza de o populismo reinaria, e o fracasso seria a decorrência


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