Folha de S. Paulo


Busca infrutífera

SÃO PAULO - O destino parecia sorrir para a Chapecoense. O time iria disputar uma final de campeonato internacional e não fazia má figura no Brasileirão. O clube era citado como caso de sucesso, pois, valendo-se de gestão competente, colhia ótimos resultados mesmo dispondo de um orçamento enxuto. Mas não foi preciso mais do que um instante para transformar a história de êxitos em tragédia. Agora a maior parte da delegação está morta. Com ela pereceram ainda duas dezenas de jornalistas e vários tripulantes.

Desastres como esse mostram que estamos inapelavelmente sujeitos aos desígnios do acaso. Ainda não sabemos exatamente o que derrubou o avião, mas, se esse acidente não fugir muito ao padrão, terá sido uma sucessão de problemas que se desenrolaram numa sequência precisa e fatal. Se um dos elementos, como o mau tempo ou uma decisão qualquer do piloto, estivesse ausente, a catástrofe talvez não tivesse se materializado, e a Chapecoense poderia até ter vencido o jogo da quarta à noite. Mas, no nosso universo, não foi o que aconteceu.

Tragédias como essa mexem conosco não só porque temos a capacidade de nos identificar com a dor dos envolvidos mas também porque temos dificuldade em aceitar a tirania do acaso. A própria condição humana pode ser descrita como uma tentativa de vencer o aleatório e assumir controle pleno sobre o mundo. É claro que é uma busca infrutífera.

Algumas tentativas são bastante infantis. É o caso das religiões, em que criamos entidades imaginárias às quais atribuímos poderes mágicos e depois ficamos implorando para que essas fantasias nos ajudem. Outras são parcialmente efetivas. É o caso das engenharias, em que estudamos os problemas e procuramos solucioná-los racionalmente. Só que conseguimos no máximo domesticar um tantinho o acaso, jamais derrotá-lo. Nós o odiamos, mas é ele que rege o universo.


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