Folha de S. Paulo


As princesinhas

Edson Silva - 27.jul.2013/Folhapress
UBERLANDIA, MG, BRASIL,2013: As alunas Caroline Rodrigues, 8, GiovannaGunsch, 8, Gabriela de Paula, 10 e Gabriela Araujo, no quarto das princesas na escola de princesas em uberlandia interior de minas gerais, durante aula de organizar o quarto da princesa na escola. Uma escola de princesas surgiu em Uberlândia, para ensinar meninas de 4 a 15 anos a ter noções de etiqueta, de corte e costura, a ler biografias, a arrumar o cabelo, etc.( Foto: (Edson Silva /Folhapress ) ***REGIONAIS***ESPECIAL***
Caroline, Giovanna, Gabriela de Paula e Gabriela Araújo na Escola de Princesas, em Uberlândia (MG)

SÃO PAULO - Como não estou nas redes sociais, fico um pouco alheio às guerras culturais travadas na internet. Foi com atraso, portanto, que tomei conhecimento da polêmica em torno das escolas de princesas.

Eu não colocaria minha filha nas atividades oferecidas por essas escolas, mas confesso que dei boas risadas ao fuçar sua página na rede. Um pouco antes de dizer que o passo mais importante na vida de uma mulher é o matrimônio, os responsáveis pela franquia afirmam que sua missão é "levar ao coração de meninas valores e princípios morais e sociais que as ajudarão a conduzir sua vida com sabedoria e discernimento" e ensiná-las "a tratar a todos com bondade e generosidade, a ter valores e princípios imutáveis (...), assim como a acreditar apaixonadamente em si mesmas e em seus sonhos".

Só que o que eu penso não serve como régua para todos. Se alguns pais abraçam os padrões éticos e estéticos da escola de princesas e querem que suas filhas a frequentem, não há mal nisso. O princípio do dano de Stuart Mill, que legitimaria algum tipo de intervenção, não se aplica, já que não há perigo real e iminente em educar filhos segundo visões de mundo bastante particulares. Pessoas fazem isso o tempo todo, frequentemente sob os aplausos da sociedade, quando levam seus rebentos para a igreja à qual pertencem. Eu próprio já despachei meus filhos para um acampamento ateu, o que talvez escandalize os mais tementes a Deus, mas é lícito e está dentro das minhas prerrogativas de pai.

Viver em sociedade não é fácil e ficou mais difícil depois que passamos a residir em cidades com milhões de habitantes com os mais diversos "backgrounds" culturais. Pode-se discutir qualquer coisa, mas, para manter a paz social nesse tipo de ambiente, é preciso aceitar como regra que nenhum grupo tem o direito de impor seus valores aos demais. A patologia social dos tempos modernos é tentar controlar a vida dos outros.


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