Folha de S. Paulo


Exame médico

Eduardo Knapp-24.out.2006/Folhapress
Médico faz exame de ultrassom em uma paciente grávida de cinco meses

SÃO PAULO - Deu no Datafolha que 84% da população brasileira apoia a proposta do governo de submeter alunos de medicina a um exame seriado (no 2º, 4º e 6º anos) para avaliar sua capacidade técnica. Para 91% dos entrevistados, os estudantes que forem reprovados no último teste devem ficar sem o diploma. O governo, entretanto, reluta em adotar uma medida assim tão restritiva.

O problema aqui é que, no que diz respeito à formação de médicos, estamos em busca da quadratura do círculo. De um lado, precisamos de mais profissionais. Segundo a publicação "Demografia Médica - 2015", o Brasil conta hoje com 2,1 médicos por mil habitantes, o que o coloca na 33ª posição entre as 40 nações consideradas no estudo. A campeã, a Grécia, ostenta 6,1, e a lanterninha, a Indonésia, tem 0,2. A média da OCDE é de 3,2.

Outro indício de que há carência de profissionais no Brasil vem dos mecanismos de mercado. Médicos são uma categoria que praticamente desconhece o desemprego.

A dificuldade é que não é tão simples formar mais médicos e, ao mesmo tempo, tornar-se mais rigoroso no processo de licenciamento desses profissionais. Se formos colocar mais gente nos sempre concorridíssimos cursos de medicina, estaremos automaticamente recrutando estudantes com pior desempenho acadêmico. E as escolas não fazem milagres. Se pegam alunos piores, entregarão profissionais piores. Cursos superiores não corrigem problemas de formação do ensino básico.

Como também é complicado "jogar fora" alguém que estudou medicina ao longo de seis anos, uma solução intermediária pode ser aproveitar os formandos que não vão tão bem no teste, mas não se revelam uma ameaça ambulante à saúde pública, em posições menos críticas, onde, sob supervisão de bons profissionais, teriam a oportunidade de ganhar experiência e conhecimentos para tentar passar na prova.


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