Folha de S. Paulo


O grande quadro

SÃO PAULO - "The Big Picture" (que pode ser traduzido por algo como "o grande quadro" ou "o todo"), do físico Sean Carroll (Caltech), é um livro importante, ambicioso e útil. O grau de imodéstia da proposta do autor fica patente pelo subtítulo da obra: "sobre as origens da vida, do sentido e do próprio universo".

O mais notável, porém, é que Carroll de fato entrega boa parte do que promete. Suas explicações sobre campo quântico, teoria da relatividade, modelo padrão, gravidade e entropia/tempo são profundas e bastante compreensíveis. Ele destrincha também conceitos que vêm ganhando importância em várias áreas, como a complexidade e o raciocínio bayesiano. O leitor leigo em física, que se contorce para compreender essas questões, só tem a agradecer.

Reprodução
Capa do livro
Capa do livro "The Big Picture", de Sean Carroll

Carroll se sai bem mesmo em terrenos que não são a sua especialidade, como as hipóteses mais em voga para a origem da vida e da consciência. Consegue ainda, o que não é tão comum para físicos, levantar questões filosóficas relevantes, remetendo-as aos pensadores pertinentes. Faz até um bom trabalho de historiador das ideias, resgatando a bela história da princesa Elisabeth, da Boêmia, que desafiou o dualismo mente-corpo de Descartes.

Uma das partes mais divertidas é aquela em que Carroll demole ideias como telecinesia, reencarnação e cura à distância, mostrando que teríamos de reescrever toda a teoria dos átomos e das partículas subatômicas (que funciona surpreendentemente bem) para permitir que exista alguma possibilidade de que o imaterial interaja com o material.

O que não funciona tão bem em "The Big Picture" é a porção final, em que Carroll pretende extrair de seu "naturalismo poético" recomendações éticas para a vida. O resultado aí é um decálogo (As Dez Considerações) que reúne banalidades como "a vida não é para sempre"; "podemos sempre melhorar"; "o Universo está em nossas mãos".


Endereço da página: