Folha de S. Paulo


Experimentos mostram que poder corrompe

"O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente." A frase do barão John Dalberg-Acton, mais conhecido como lorde Acton, vem ganhando inesperado apoio de uma série de experimentos científicos.

Quem se debruça sobre a questão é o psicólogo Dacher Keltner (Berkeley) no recém-lançado "The Power Paradox" (o paradoxo do poder). O autor defende a tese de que, ao contrário do que sugeria Maquiavel, o caminho para conquistar e manter o poder, seja num país, seja num grupo menor, é ser bonzinho e ajudar os outros. Se as coisas terminassem aqui, viveríamos no melhor dos mundos. Mas a história continua.

Depois que a empatia e a inteligência social fazem com que o sujeito chegue a uma posição de comando, ele tende a experimentar uma série de processos mentais que favorecem o aumento da impulsividade e a redução da empatia. É aqui que o sujeito legal pode tornar-se um sociopata, e o bom político se converte no tirano.

Keltner busca substanciar essa teoria numa série de experimentos psicológicos que mostram que, quando as pessoas se sentem mais poderosas, elas tendem a comer mais impulsivamente, ter mais casos extraconjugais, violar mais as leis de trânsito e trapacear com maior desenvoltura. Isso ocorre não apenas com políticos, mas também com pessoas comuns. Motoristas de carrões caros dão quatro vezes mais fechadas em outros veículos do que condutores de modelos mais simples.

Psicologia, porém, não é necessariamente destino. Keltner, que tenta aliar seus achados com os princípios da psicologia positiva, acredita que, se as pessoas em posição de comando estiverem cientes do risco de perder a empatia, podem se policiar para evitar o paradoxo do poder.

Não estou tão seguro dessa última parte, mas "The Power..." é uma leitura interessante, que reforça a necessidade de zelarmos pela alternância do poder nas democracias.


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