Folha de S. Paulo


Rede de intrigas

SÃO PAULO - Greves já entraram para o calendário oficioso das universidades paulistas. São raros os anos em que ao menos um dos três estamentos universitários (alunos, professores e funcionários) não faz uma paralisação que pode subtrair meses de aulas das unidades mais engajadas. Há dois problemas aqui.

O primeiro diz respeito a um deficit democrático. Os movimentos paradistas costumam ser decididos em assembleias que reúnem poucas centenas de militantes, quando o universo de alunos, professores e funcionários se conta na casa dos milhares. Se as entidades representativas desses grupos fossem tão democráticas quanto alegam, já teriam adotado alguma forma de consulta virtual, na qual cada membro da comunidade acadêmica teria a oportunidade de votar com um simples clique de computador. A tecnologia existe, o que falta é a tal da vontade política.

O segundo é potencialmente mais grave. A sequência de paralisações poderá, no médio prazo, trazer impactos negativos para a qualidade das três instituições paulistas. A razão é simples. Parte significativa da excelência de uma universidade é dada pelo nível dos alunos que recruta.

USP, Unicamp e Unesp saem com vantagem sobre outras instituições por serem gratuitas e oferecerem um ensino em geral bom, azeitado por departamentos que estão na linha de frente das pesquisas. Até há pouco, não havia muita concorrência.

De alguns anos para cá, porém, surgiram no setor privado alternativas de qualidade, ao menos nas áreas mais valorizadas pelo mercado, como direito, medicina, engenharias e economia. Para os bons alunos cujas famílias podem arcar com mensalidades elevadas, as universidades paulistas já não são uma opção irresistível. A naturalização das greves não ajuda as públicas a competirem pelos melhores estudantes.

Se há algum consolo aqui, é que uma solução para o primeiro problema já ajudaria a atenuar o segundo.

helio@uol.com.br


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