Folha de S. Paulo


PT como vítima

SÃO PAULO - O PT está sendo vítima de perseguição na Lava Jato? A essa altura, a maioria dos leitores já deve ter formado um juízo próprio e dificilmente mudará de posição por motivos tão triviais quanto evidências. Mesmo assim, tento.

Comecemos pelo plano jurídico. Decisões isoladas avançaram o sinal. O juiz Sergio Moro não poderia, por exemplo, ter tornado públicos os diálogos envolvendo familiares e amigos do ex-presidente Lula. Na verdade, deveria ter mandado destruir essas gravações, como determina a lei nº 9.296/96. A conversa com Dilma, por envolver potencial ilícito, é mais controversa. De todo modo, Moro deveria tê-la despachado ao STF.

Trata-se, porém, de violações ocasionais, que não bastam para invalidar o processo. No atacado, as investigações seguem os padrões normais da Justiça brasileira, que tem abusos endêmicos, como o desvirtuamento do uso das prisões cautelares, mas é difícil perceber um viés contra o PT. A maioria dos políticos que responde a inquérito, vale lembrar, pertence ao PP. Em seguida vem o PMDB e só depois é que aparece o PT.

No plano da opinião pública as coisas ficam mais interessantes. É verdade que as suspeitas relativas ao governo monopolizam o noticiário, enquanto as relacionadas à oposição ganham menos destaque. Poderíamos até discutir como calibrar melhor a imprensa, mas o interesse jornalístico é necessariamente desequilibrado. Uma denúncia envolvendo a presidente, afinal, pode derrubar o governo; já uma contra a oposição só move a bolsa de apostas.

O discurso vitimista do PT se tornará realidade se as suspeitas contra opositores forem esquecidas, mas, como ainda não dá para dizer que isso ocorreu, as queixas ficam mais bem descritas como arroubo retórico.

Meu palpite é que as apurações já ultrapassaram aquele estágio em que a pasta de dente foi apertada e não há como fazê-la voltar para o tubo, mas só o futuro dirá com certeza.


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