Folha de S. Paulo


Rei por prazo fixo

SÃO PAULO - Líderes do DEM protocolaram uma representação em que pedem, entre outras coisas, que Dilma Rousseff restitua à União os gastos decorrentes da viagem que fez a São Paulo no último fim de semana para prestar solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entender dos bravos democratas, o deslocamento tinha caráter pessoal e não público.

O pedido é obviamente uma bobagem. A segurança presidencial não a deixa deslocar-se em aviões de carreira e sem uma pesada escolta. Pelas mesmas regras de segurança, Geraldo Alckmin e sua família usam aeronaves do governo paulista para ir a seu sítio em Pindamonhangaba.

O que faz mais sentido é perguntar se todo esse aparato é mesmo necessário. Na Europa, especialmente nos países do norte, as mordomias e facilidades concedidas a políticos são poucas. Não é incomum avistar um premiê usando transporte público para ir de casa até o serviço ou empurrando seu próprio carrinho de compras no supermercado, já que eles não têm direito a geladeira cheia paga pelos contribuintes. Recomendo aqui o livro de Claudia Wallin sobre a vida de políticos na Suécia.

Por que aqui é diferente? A culpa é dos americanos. Quando eles inventaram a instituição da Presidência, os modelos de governança em que podiam se inspirar eram as monarquias europeias. O presidente acabou se tornando um rei por prazo fixo. Embora sujeito a controles institucionais num sistema de freios e contrapesos, manteve direito a viver num palácio cercado por serviçais. Brasileiros imitamos a Presidência americana –com menos controles institucionais, é claro– e expandimos seus luxos para toda a corte de políticos e autoridades.

A segurança me parece muito mais um pretexto para a pompa do que um gênero de primeira necessidade. A verdade é que o presidencialismo é um sistema que, em vários aspectos, envelheceu mal.


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