Folha de S. Paulo


Ilusões perdidas

SÃO PAULO - Há pessoas que gostam de encrenca. Padraig O'Malley é definitivamente uma delas. Professor de "paz e reconciliação" da escola de estudos globais da Universidade de Massachusetts, ele se especializou em estudar os conflitos mais intratáveis do planeta e ajudar a negociar uma solução para eles.

Começou pela Irlanda do Norte, passou para a África do Sul e, nos últimos anos, se debruçou sobre o conflito israelo-palestino. Foi derrotado pelo último. O resultado de seu trabalho está em "The Two State Delusion" (a ilusão dos dois Estados), uma obra que consegue ser, ao mesmo tempo, extremamente informativa e terrivelmente frustrante.

É informativa porque O'Malley não se contentou em consumir toda a literatura acadêmica sobre o conflito mas também entrevistou dezenas de atores, de ambos os lados e cobrindo todos os matizes ideológicos de uma aquarela das mais coloridas. É frustrante porque a conclusão do autor é a de que a ideia de criar dois Estados na região, um para os judeus e outro para os palestinos, provavelmente não dará certo.

Ninguém precisa, é claro, tomar as análises de O'Malley como palavra divina –a ideia de Deus, aliás, é uma que atrapalha bastante as coisas neste canto do mundo. Como estamos lidando com ciências humanas, é sempre possível apresentar outras versões que parecem consistentes. Mas o autor monta um bom caso ao afirmar que as narrativas de ambos os lados são inconciliáveis, a paz, ao contrário do que afirmavam analistas, nunca esteve muito próxima –nem em Camp David (2000) nem em Annapolis (2007)–, e os movimentos demográficos em curso tendem a radicalizar as posições de ambos os lados.

Para piorar, O'Malley não apresenta nenhuma sugestão do que possa ser feito para destravar o processo de paz. O livro é lúgubre, quase niilista, mas nem por isso deixa de ser uma leitura enriquecedora.


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