Folha de S. Paulo


Sempre teremos Paris?

SÃO PAULO - Foi o acordo possível. O documento sobre clima firmado sábado em Paris por mais de 190 países foi ambicioso nas intenções e modesto nos meios de implementação.

É quase um consenso entre os analistas que os instrumentos criados no Acordo de Paris não bastarão para manter a emissão de gases-estufa nos níveis que os cientistas consideram necessários para evitar os efeitos mais perigosos da mudança climática. Não se acordou nem o compromisso de acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis. É inegável, contudo, que estamos melhor do que na semana passada, já que agora ao menos existe um mecanismo jurídico internacional ao qual poderemos recorrer quando a situação o exigir.

E por que precisamos combater a mudança climática? Na escala geológica, é possível que essa já seja uma batalha perdida. Numa passagem impressionante de "A New History of Life", que já comentei aqui, os geobiólogos Peter Ward e Joe Kirschvink afirmam que o rápido aumento do CO2 atmosférico é o que existe de comum entre o que ocorre hoje e o que aconteceu em mais de dez extinções em massa que o planeta já experimentou. Elas não foram causadas por choques de asteroides nem nada tão impactante, mas pelo mais singelo incremento dos gases-estufa e o subsequente aquecimento climático.

A boa notícia é que não vivemos na escala geológica. O horizonte de nossas vidas é bem mais estreito. A marca de 1 milhão de anos, que não é nada no tempo geológico, já supera em cinco vezes a duração de nossa espécie. Mesmo que sobrevenha o pior, ainda teremos várias gerações de humanos aos quais devemos pelo menos a tentativa de legar um planeta tão habitável quanto encontramos. Aí já não estamos diante de uma questão puramente científica, mas também ética. Para quem está interessado nessa discussão, recomendo vivamente o recém-lançado "Para Entender o Desenvolvimento Sustentável", de José Eli da Veiga.


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