Folha de S. Paulo


Guerras virtuosas

SÃO PAULO - Horácio afirmou que as guerras eram sempre detestadas pelas mães ("bella matribus destestata"). É difícil discordar, mas, em mais um grande livro, o historiador Ian Morris sugere que os conflitos, embora não sejam apreciados pelas mães, talvez o sejam pelas avós.

Em "War! What Is It Good For?" (guerra! para que ela serve?), Morris sustenta a tese de que guerras, apesar de causarem enorme sofrimento para as pessoas nelas envolvidas, são as grandes responsáveis pela era relativamente pacífica e pela enorme riqueza material de que usufruímos hoje. Se elas fazem mal aos soldados e mesmo à população civil, podem fazer bem aos descendentes dos que conseguem sobreviver.

Bem a seu estilo, Morris desenterra uma montanha de evidências, que vão da zoologia à arqueologia, e as coloca em métricas com o objetivo de provar sua tese, que pode ser bastante contraintuitiva, como é o caso aqui. O próprio autor, porém, reconhece que nem todos os conflitos são iguais. Ele diferencia as guerras produtivas das improdutivas. As primeiras, que seriam um outro nome para as guerras imperialistas, seriam positivas, já que levam ordem aos povos conquistados, permitindo que vivam em ambientes menos violentos e mais favoráveis ao progresso econômico. Um bom exemplo desse tipo de conflito seria a expansão dos grandes impérios da Antiguidade.

Já as guerras improdutivas são aquelas que levam à desagregação de um Estado, como vemos ocorrer agora na Síria. Esses conflitos, mesmo depois de encerrados, não resultam na instituição de um Leviatã capaz de fazer as coisas funcionarem.

Descrito dessa forma, pode ficar parecendo que Morris é um belicista inveterado, pronto a despachar os marines para qualquer província desordeira. Nada mais longe da verdade. O autor expõe o seu caso muito mais como a constatação de um paradoxo algo perturbador do que como um programa de ação.


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