Folha de S. Paulo


Ai dona fea!

SÃO PAULO - Beleza é fundamental, já dizia o poeta. Agora no século 21 temos condições não apenas de confirmar essa predisposição humana mas também de esquadrinhá-la e quantificá-la. É o que faz Christian Rudder, autor de "Dataclisma: Quem Somos Quando Achamos que Ninguém Está Olhando".

Rudder, um matemático que dirige um site de namoro, usa o big data para lançar luzes em relação a temas sobre os quais temos o péssimo hábito de mentir (para pesquisadores e às vezes para nós mesmos), como amor, sexo, racismo. O livro também aborda questões cada vez mais importantes como privacidade e o valor das informações que damos de graça a sites como Facebook, Amazon.

Como não dá para abordar tudo, limito-me a relatar algumas descobertas de Rudder sobre beleza. Ela importa para todos, mas muito mais para as mulheres. Homens e mulheres considerados bonitos são mais populares no Facebook. Para cada percentil que galgam na escala de formosura, eles ganham dois amigos e elas três. Mas é no emprego que a coisa fica muito mais assimétrica.

Aqui, a beleza masculina quase não afeta as chances de ser chamado para entrevistas de contratação. A curva é uma linha. Já para elas, a curva é exponencial. Uma mulher "top ten" consegue cinco entrevistas contra zero das que estão entre as 20% mais feias. O efeito ocorre mesmo quando o responsável pela contratação é uma mulher heterossexual.

Pior, coisas parecidas ocorrem nos tribunais. Pessoas mais bonitas têm menos chance de ir para a cadeia e, quando vão, tendem a pegar sentenças menores que os feios.

A hipótese para explicar o fenômeno é que o córtex orbitofrontal medial está envolvido tanto na avaliação da beleza de uma face quanto na da virtude de comportamentos. Isso significa que, para o cérebro, as curvas do rosto dizem algo sobre o caráter de uma pessoa. Convencê-lo de que isso é bobagem não é trivial.

helio@uol.com.br


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