Folha de S. Paulo


A uberização do mundo

SÃO PAULO - A palavra da vez é "uberização". Ela virou tema da campanha presidencial americana e ocupa legislativos de várias cidades e países, que tentam definir o tratamento que dispensarão às caronas compartilhadas (Uber), aluguel de quartos (Airbnb) e até à comunicação interpessoal (polêmica das telefônicas contra o WhatsApp) e ao entretenimento (Netflix X TVs a cabo), para citar apenas alguns.

Se a história ensina alguma coisa, é uma questão de tempo até que as resistências sejam vencidas e os novos modelos substituam os velhos. Em alguns casos, como o das telefônicas, há problemas práticos a resolver, notadamente a definição de quem vai ficar com a conta dos investimentos na infraestrutura de internet, mas não há muita dúvida de que se chegará a uma fórmula.

O que estamos presenciando aqui é basicamente o capitalismo em ação. Como já ensinava o economista Joseph Schumpeter, a chegada de novas tecnologias destrói velhas empresas, antigos modelos de negócios e até mesmo profissões –não vemos mais tantos ascensoristas e apagadores de lampião por aí. Pode ser ruim para essas pessoas, mas é das inovações que, em última instância, sociedades extraem prosperidade.

E percebam que a maioria das tecnologias em pauta não chega a ser revolucionária. O Uber, por exemplo, não está substituindo a locomoção veicular pelo teletransporte, ele apenas está unindo a oferta (motoristas) à demanda (passageiros) de forma ágil e passando por cima da regulação estatal, que, neste caso, parece mesmo dispensável.

O Brasil, diga-se, é um país meio ludita. Ainda conservamos por aqui profissões que, em outras partes do mundo, foram aposentadas, como cobradores de ônibus e frentistas. Parece-me, porém, que esses casos sejam mais bem descritos como pontos fora da curva do que como uma recusa obstinada da sociedade em incorporar avanços tecnológicos.

helio@uol.com.br


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