Folha de S. Paulo


50 km/h

SÃO PAULO - Na polêmica sobre a redução da velocidade máxima nas marginais, estou mais para o prefeito Fernando Haddad do que para a cada vez mais histriônica OAB. Daí não decorre, é claro, que eu considere que o alcaide está fazendo as coisas da melhor maneira possível.

É verdade, como diz a prefeitura, que a diminuição da velocidade é uma tendência internacional, em especial na Europa do norte, onde apresenta resultados razoavelmente satisfatórios. O "traffic calming" (arsenal de medidas físicas e psicológicas com o objetivo de desacelerar o trânsito) constitui o âmago do projeto que alguns países se colocaram de praticamente zerar as mortes no trânsito até 2050.

A menos que ocorra uma revolução tecnológica, como a massificação dos veículos dirigidos por computador, São Paulo e o Brasil, se quiserem seguir pelo caminho civilizado, em algum momento também terão de impor restrições mais drásticas de velocidade.

O problema é que, no trânsito, psicologia é tudo, e a administração paulistana, talvez contaminada pelo clima político adversativo que toma conta do país, não está conseguindo vender direito seu peixe.

Por algum motivo, motoristas encaram a redução da velocidade máxima como uma perda, e o ser humano tem horror a perdas. Um modo de torná-las mais palatáveis é inscrevê-las numa narrativa de esforço coletivo que pareça justo para com todas as partes envolvidas.

Nesse contexto, a redução do limite de velocidade seria mais bem assimilada se viesse acompanhada de iniciativas para disciplinar também motociclistas, ciclistas, pedestres. Haddad poderia, por exemplo, propor ao Congresso que proibisse as motos de circular entre os veículos, outra medida necessária se o objetivo for um dia zerar as mortes no trânsito. Mas talvez o prefeito não esteja disposto a enfrentar a ira de motoristas e motoboys ao mesmo tempo.


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