Folha de S. Paulo


Mania besta

SÃO PAULO - Eduardo Cunha agora propõe o parlamentarismo. Não há muita dúvida de que este é um sistema de governo melhor do que o presidencialismo. Há, entretanto, pelo menos dois problemas que dificultam sua adoção no Brasil.

O primeiro é que, no último meio século –em 1963 e 1993–, os brasileiros já foram duas vezes chamados às urnas para dizer se queriam o parlamentarismo e em ambas o rejeitaram por expressivas maiorias. Assim, se for para jogar honestamente, seria preciso mais uma vez levar a decisão aos eleitores e nada indica que eles tenham mudado de ideia.

O outro problema com o parlamentarismo é que ele é eficiente quando o país enfrenta pequenas e médias crises, mas tende a tornar-se um entrave se a encrenca é das grandes. Numa crise econômica mais prolongada, governos poderiam suceder-se em ritmo bastante acelerado, de modo que nenhum deles teria a chance de montar um plano de recuperação consistente e implementá-lo. Pior, a exemplo do que se viu na Grécia, nessas situações a impaciência da população costuma premiar os grupos de discurso mais veemente e, com frequência, o radicalismo apenas piora as coisas.

É verdade que nenhum desses obstáculos é intransponível e eu não acharia ruim se o Brasil passasse para o parlamentarismo. Mas, se o país tem um problema ainda mais pernicioso do que as mazelas do nosso presidencialismo de coalizão, é a mania de achar que tudo pode ser resolvido com grandes reformas.

A vida não é um projeto de lei. O aprimoramento institucional é algo que depende do tempo, do funcionamento contínuo. Se, à primeira dificuldade mudamos tudo, as instituições jamais amadurecerão.

Mesmo com todas as falhas, acho que devemos insistir no presidencialismo, com pequenas reformas que tragam ganhos incrementais. Apesar de tudo, o Brasil funciona hoje bem melhor do que em 1963 e em 1993.


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