Folha de S. Paulo


Abusando do leitor

SÃO PAULO - Está divertida a briga do PT com o PSDB em torno do programa de TV que os tucanos veicularam nesta semana. Rui Falcão, o presidente do PT, diz que vai à Justiça contra a peça. Se entendi bem, é porque os tucanos não mencionaram que havia corrupção também quando eles estavam no poder.

Objetivamente, Falcão tem razão. Houve corrupção durante a gestão FHC. A rigor, existe corrupção até nos países nórdicos, tidos como os mais virtuosos do planeta, mas é ridículo exigir que peças publicitárias digam só verdades e não deixem de dar nenhuma informação relevante. Obviamente, o PT não seguiu as diretrizes da ética de comunicação que agora defende na campanha que reelegeu Dilma, como, aliás, mostrou com competência o programa tucano.

Deixemos, porém, as incongruências do petismo momentaneamente de lado e escarafunchemos um pouco os pecados do PSDB. Os tucanos afirmaram no programa que ser oposição não é dizer não a tudo, mas apenas ao que está errado. À luz desse brocardo, fica difícil entender por que a bancada do partido na Câmara votou em massa pelo fim do fator previdenciário. Quando ele foi introduzido, em 1999, sob o governo FHC, os tucanos insistiam que a fórmula era fundamental para assegurar a viabilidade do sistema de pensões. O que mudou? A Previdência deixou de ser deficitária? Houve um cavalo de pau demográfico que agora permite pagar mais a quem está para se aposentar? Esses esclarecimentos os tucanos ficaram devendo.

Assim como lobos e cordeiros dificilmente viverão em paz e harmonia, políticos e publicitários dificilmente dirão apenas verdades e prestarão todas as informações relevantes. É pena, mas é a vida. Só me pergunto por que seus shows de mentiras e meias verdades devem ser custeados com dinheiro público. Obrigar cidadãos a pagar por produtos que não desejam adquirir é considerado cláusula abusiva pelo Código do Consumidor.


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