Folha de S. Paulo


O caminhão da mudança

SÃO PAULO - Esqueça a hiperatividade paterna e os milhões de cursos extras. Eu já tinha brincado aqui que a ação mais efetiva que pais podem tomar para o futuro de seus rebentos (fora a escolha de um parceiro sexual com bons genes) é mudar-se para uma vizinhança melhor.

Bem, essa hipótese acaba de ganhar apoio com um impressionante trabalho dos economistas Raj Chetty e Nathaniel Hendren, de Harvard. Eles analisaram dados de mais de 5 milhões de famílias que se mudaram dentro dos EUA e puderam estabelecer empiricamente que trocar de bairro ou de cidade pode afetar dramaticamente o futuro do jovem.

Segundo os autores, não se trata de mera correlação estatística, mas de efeitos causais. Com auxílio do "big data", eles estabeleceram um ranking de todos os 2.478 condados dos EUA. O melhor é Sioux, Iowa. Uma criança cujos pais estão entre os 25% mais pobres que passe toda a sua infância ali, terá, como adulto, um acréscimo de 35% em sua renda comparada com a média nacional para a mesma coorte. O pior é Shannon, Dakota do Sul. O impacto de viver ali é de robustos -35%.

O efeito é proporcional ao tempo de exposição do indivíduo à nova vizinhança (daí a causalidade). Se você se muda bebê, se sai melhor do que se chegar já adolescente. Os indicadores relativos ao migrante convergem para os da população permanente a uma taxa de 3% a 4% ao ano.

Os autores identificaram cinco fatores mais associados à ascensão social dos mais pobres: menos segregação residencial por renda e raça; menores níveis de pobreza, melhores escolas; menores taxas de crimes violentos; e maior proporção de lares com pai e mãe vivendo juntos. Já para as crianças mais ricas, as características que se mostraram relevantes foram: qualidade das escolas, capital social e menos desigualdade.

O caminhão de mudanças parece ser a uma arma eficaz contra a armadilha da pobreza intergeracional.


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