Folha de S. Paulo


Reformismo radical

SÃO PAULO - Ganhar a eleição na Grécia foi a parte fácil do desafio diante de Alexis Tsipras, líder do Syriza, partido de esquerda radical.

A economia é uma ciência bastante grosseira, cujas previsões têm a precisão de uma clepsidra quebrada. Nessas condições, é preciso muita fé nas cartilhas ortodoxas para afirmar que o regime de austeridade nos exatos termos negociados entre Atenas e a troika (autoridades europeias e o FMI) era a única ou mesmo a melhor solução possível para a crise grega.

Admitir que há espaço de manobra não significa afirmar que a economia é a extensão da vontade do povo. Se você vai muito diretamente contra a meia dúzia de princípios fundamentais da economia, é quase certo que vai quebrar a cara.

E o problema é que Tsipras foi eleito de forma populista, prometendo aos gregos o fim da austeridade. É um produto que ele não poderá entregar, ao menos não em sua forma pura. É possível, porém, que, se for hábil, consiga oferecer algum alívio, que poderá contentar os eleitores castigados por anos de recessão.

O fato insofismável é que o governo grego não tem dinheiro para fechar suas contas. Precisa consegui-lo fora e a fonte mais óbvia, provavelmente a única disponível, é o consórcio entre a UE e o FMI. Como o rompimento com os credores lançaria a Grécia para fora do euro e muito provavelmente para o caos, esse é um caminho que Tsipras deverá, pelo menos por ora, evitar. Resta-lhe tentar arrancar bondades. Tem, a seu favor, o fato de que o Banco Central Europeu resolveu agora adotar uma política de estímulos econômicos. Contra si, há a percepção, verossímil, de que a troika não vai querer incentivar eleitores de outros países endividados a eleger governos radicais.

Embora a esquerda goste de proclamar-se revolucionária, neste caso preciso, o mais provável é que a diferença entre sucesso e fracasso do Syriza seja dada pela magnitude das reformas que conseguir negociar.


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