Folha de S. Paulo


Matemática evolutiva

SÃO PAULO - Para quem gosta de matemática, uma boa leitura é "Mathematics and the Real World" (matemática e o mundo real), de Zvi Artstein, professor do Instituto Weizmann, de Israel.

O autor começa dividindo a matemática em duas, uma mais natural, que a evolução nos preparou (e também a outros bichos) para compreender, e outra totalmente abstrata, cuja intelecção exige refrear todas as nossas intuições. No primeiro grupo estão a aritmética e parte da geometria. No segundo, destacam-se lógica formal, estatística, teoria dos conjuntos e o grosso do material sobre o qual se debruçam hoje os matemáticos.

Egípicios, babilônios, indianos e outros povos da Antiguidade desenvolveram razoavelmente bem a matemática natural. Fizeram-no por razões práticas, como facilitar o comércio e o cálculo astrológico. Foram os gregos, contudo, que, tentando escapar ao que consideravam ilusões de ótica do mundo sensível, resolveram fiar-se na matemática para descobrir o "real". É aqui que a matemática ganha autonomia para florescer para além das intuições.

Na sequência, Artstein traça uma interessantíssima história da ciência, destacando quais transformações foram necessárias na matemática para que pudessem firmar-se teorias e modelos como heliocentrismo, gravitação universal, relatividade, mecânica quântica, cordas etc. Não foge, embora nem sempre desenvolva muito, das implicações filosóficas.

O autor discute também assuntos mais classicamente matemáticos, como incerteza, caos, infinito, os teoremas da incompletude de Gödel. Numa concessão ao mundo prático, aborda quase apressadamente algumas questões da sociologia e da computação. Finaliza advogando por reformas no ensino da matemática.

O bacana do livro é que Artstein consegue transformar um assunto potencialmente árido num texto que se lê com a fluidez de um romance. Não é para qualquer um.


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