Folha de S. Paulo


Uma guerra atrasados

SÃO PAULO - Qual a semelhança entre o PT e o Estado-Maior francês? Estão sempre uma guerra atrasados. A expressão "uma guerra atrasados" surgiu após o desastre de 1940, no qual o Exército francês, tendo apostado todas as suas fichas na construção da inútil linha Maginot (que talvez tivesse funcionado na 1ª Guerra Mundial), sucumbiu em 38 dias e com enormes perdas às "Panzerdivisionen" de Adolf Hitler.

De modo análogo, a democratização da mídia de que o PT voltou a falar após a reeleição de Dilma Rousseff é uma boa batalha do passado. Acredito que, no século anterior, o Brasil teria se beneficiado bastante de uma legislação que evitasse a propriedade cruzada de meios de comunicação. Melhor ainda se houvesse um dispositivo que de fato impedisse pessoas de ser simultaneamente detentores de cargos eletivos e donos de rádios e TVs, que são concessões públicas. Essa, porém, parece ser, como a reforma agrária e o julgamento de agentes do Estado que praticaram tortura, mais uma daquelas oportunidades históricas perdidas.

Eu não chegaria ao ponto de afirmar que a concentração deixou de ser uma questão, mas não há muita dúvida de que o problema caminha para tornar-se cada vez menos relevante. O responsável por isso é a tecnologia. Se, no passado, era difícil para o cidadão encontrar fontes de informação alternativas à grande imprensa, isso deixou de ser verdade depois que a internet se massificou.

Estima-se que sejam produzidos e no mundo hoje 2,5 quintilhões (2,5 x 10^18) de bytes de dados a cada dia, que é o equivalente a 450 bibliotecas do Congresso dos EUA. É espaço mais do que suficiente para assegurar que quase tudo seja objeto de quase todos os olhares possíveis. Basta apertar alguns botões no celular para ter acesso à maior parte disso.

Nesse contexto, afirmar que a informação é controlada por um pequeno grupo de "detentores do capital" é no mínimo inverossímil.


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