Folha de S. Paulo


O tal de mercado

SÃO PAULO - Antes mesmo de assumir o ministério, Joaquim Levy vem sendo objeto de fogo amigo do PT devido a suas posições consideradas muito mercadistas por uma ala do partido. Mas o que é ser mercadista? Quem, afinal, é o mercado?

Objetivamente, ele não é ninguém, mas a resultante dos comportamentos de uma legião heterogênea de gente. Compõem o tal de mercado desde criminosos endinheirados até velhinhas aposentadas, passando por pequenas, médias e grandes empresas. Qualquer um que tenha um caraminguá aplicado, com o objetivo bem razoável de preservar e ampliar seu valor, faz parte do mercado.

É claro que existem defensores mais e menos exaltados de mecanismos de ajuste como taxa de juros, metas de inflação e superávit primário, valor do salário mínimo etc. Destacam-se aí os banqueiros, categoria que amamos odiar, a ponto de fazê-los estrelar o papel de vilões em campanhas eleitorais. O fato, porém, é que eles são assim tão vociferantes em parte porque os pequenos poupadores os remuneramos –e regiamente– para que nossos investimentos rendam o máximo possível.

Não estou afirmando que não caibam críticas morais aos resultados produzidos pelo mercado. Elas são muitas e muito pertinentes. É fundamental, contudo, que a indignação que possamos experimentar não contamine nossa capacidade de compreender como as engrenagens econômicas funcionam no mundo real. Se isso ocorrer, o resultado são barbeiragens. Foi exatamente o que se deu na primeira gestão de Dilma.

Quanto à lista de injustiças do mundo, ela até pode ser encabeçada pelos lucros exorbitantes de banqueiros, mas não se limita a eles. Por que um sujeito que teve a sorte de jogar bem futebol ou a mulher que por acaso nasceu bonita merecem ganhar milhares de vezes mais do que pernas de pau ou feias? Como mostrou John Rawls, quase tudo o que valorizamos é um prêmio indevido.


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