Folha de S. Paulo


A culpa é da biologia

SÃO PAULO - Antes de romper com a namorada que votou num candidato diferente do seu ou de brigar com seu melhor amigo porque ele é politicamente cego, considere a possibilidade de eles não terem culpa por serem assim.

A responsável é a biologia. Essa pelo menos é a mensagem de um novo estudo que, embora ainda esteja no prelo na "Current Biology", já movimenta sites e blogs científicos. Um grupo de pesquisadores liderados por Read Montague, da Virginia Tech, mostrou que é possível identificar as inclinações político-ideológicas de um indivíduo apenas observando a intensidade com que reagem a fotografias nojentas.

Montague e colegas meteram voluntários numa máquina de ressonância magnética funcional para ver como seus cérebros reagiam a imagens negativas, neutras e prazerosas sem conteúdo político e depois os submeteram a questionários que medem suas preferências políticas.

Descobriram que a resposta neuronal a fotos repulsivas –coisas como infestações por larvas, banheiros sujos, carcaças apodrecidas– permitia prever com precisão que variava entre 95% e 98% como o sujeito se sairia no teste ideológico. Quanto mais exacerbada a reação do cérebro às imagens negativas, mais conservador o indivíduo tende a ser.

O neurocientista diz que teve a ideia do experimento depois de constatar, através dos estudos com gêmeos, que a inclinação política é um traço hereditário quase tão forte quanto a altura e que tem muito a ver com a forma como o corpo responde a ameaças externas –duas assinaturas da biologia.

O próprio Montague, entretanto, lembra que biologia não é destino. Humanos mais do que todos os bichos têm a capacidade de exercer controle cognitivo sobre os seus impulsos. Isso significa que podemos pensar em vez de apenas reagir. É verdade que nem sempre o fazemos, mas podemos, inclusive na política.


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