Folha de S. Paulo


Mentiras de campanha

SÃO PAULO - Dilma Rousseff e Aécio Neves andaram acusando um ao outro de mentirosos. A incriminação é extensiva não só ao conjunto da humanidade como também aos reinos animal e vegetal. Até vírus, que nem sequer são considerados seres vivos, se valem de estratégias de engodo para infectar células.

Se tomarmos a mentira numa definição bem ampla, que abarque todo comportamento que tenha por objetivo fornecer informações falsas ou esconder dados verdadeiros, então a fraude é uma constante na natureza.

Autores que esmiuçaram a psicologia da mentira como David Livingstone Smith e Robert Feldman trazem dados impressionantes. A partir dos seis meses, bebês já simulam choro para atrair atenção. Aos três anos, crianças descumprem as regras estipuladas em 82% das ocasiões e mentem sobre isso 95% das vezes. A coisa não melhora com a idade. Na faculdade, jovens mentem para os pais em 50% de suas conversas e, para estranhos, em 80%. Se abraçam a carreira política ou a profissão de advogado, o índice pode subir ainda mais.

O problema aqui é a duplicidade da natureza humana. Se fôssemos bichos solitários, estaríamos felizes mentindo 100% do tempo. Mas, na condição de animais sociais, precisamos também estabelecer relações de confiança com nossos semelhantes. Assim, criamos uma moral que enaltece a verdade e condena a mentira.

Até certo ponto, funciona. Em algumas situações, nos esforçamos para ser honestos. Mas, como as vantagens possibilitadas pela fraude são significativas, ela nunca é completamente coibida. Os subprodutos aqui são a hipocrisia e, num degrau acima, o autoengano. Quando nós mesmos cremos no logro que nos beneficia, somos mais convincentes ao ludibriar o próximo e nos poupamos dos sentimentos negativos associados à violação do código moral.

O perigo aqui é que o futuro presidente acredite em tudo o que disse o candidato durante a campanha.


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