Folha de S. Paulo


A condição humana

SÃO PAULO - O título, "O Significado da Existência Humana", é pretensioso. Mas seu autor, o biólogo Edward O. Wilson, agora com 85 anos e um longo currículo de serviços prestados à ciência, chegou àquele estágio da vida em que pode se dar ao luxo de dizer o que pensa sem temer pelo que possa acontecer com suas carreira e biografia.

E o livro, que acaba de ser lançado no mercado de língua inglesa, toca em vários pontos sensíveis. Wilson, o primeiro proponente da sociobiologia, pede que cientistas e o pessoal das ciências humanas juntem forças. A condição do homem, sustenta ele, só pode ser compreendida por meio de uma investida conjunta, em que a física e a biologia nos informam sobre nosso lugar no universo e os limites evolutivos em que nossas mentes operam e, em seguida, as humanidades elaboram os detalhes.

O retrato que emerge é que nossa espécie não passa de um acidente da evolução, mas que, por uma série de outros acidentes, acabou dominando o planeta. Nossas ações é que definirão em que condições a Terra continuará existindo.

Ao refletir sobre isso, Wilson revela seu pensamento sobre uma série de temas polêmicos, como religião (ele a ataca com força), livre-arbítrio (ainda que não seja uma realidade física, é uma necessidade operacional para os humanos), moral e meio ambiente. Descreve até como seriam os ETs, na hipótese de existirem.

Como não poderia deixar de ser, Wilson também fala um pouco de biologia. Revisita a eussocialidade das formigas, sua área de origem, e reafirma sua recente conversão à tese de que a seleção natural opera não apenas sobre genes mas também sobre grupos, o que lhe valeu uma briga mortal com dezenas de biólogos mais ortodoxos.

Tudo isso vem num livro relativamente curto (207 páginas) e muito bem escrito. Wilson também traz em seu currículo dois Prêmios Pulitzer por suas obras de não ficção.


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