Folha de S. Paulo


Quando todos têm razão

SÃO PAULO - O conflito entre israelenses e palestinos não se resolve porque cada parte valoriza muito os aspectos em que tem razão, deixando de reconhecer que o inimigo também apresenta pontos válidos.

Os palestinos têm todos os motivos do mundo para rejeitar a ocupação da Cisjordânia e combatê-la. Israelenses estão cobertos de razão ao afirmar que necessitam de fronteiras seguras e que é complicado ter como vizinho um regime cujo principal objetivo é destruir o Estado hebreu. Acrescente-se a isso pelo menos seis décadas de atritos que custaram as vidas de familiares de ambas as partes e conclui-se que israelenses e palestinos têm justificativas de sobra para odiar-se e querer eliminar uns aos outros. Mas, como não há condições materiais ou políticas de fazê-lo, o mais razoável é que encontrem um modo de conviver.

O conflito sobreviveu à Guerra Fria e a incontáveis iniciativas de paz porque caiu na versão bélica do que os economistas chamam de armadilha do equilíbrio estável. Para as lideranças do Hamas, a guerra contra Israel se tornou a principal senão a única razão de existir. É dela que extraem seu poder e seu status social. Dificilmente darão um passo em direção à paz. Israel, por ser uma democracia, a única da região, deveria ser mais maleável. O problema é que é uma democracia bastante disfuncional, na qual pequenos partidos religiosos vêm há décadas servindo como fiel da balança em coalizões frágeis, o que lhes deu um poder desproporcional, que usam para manter e ampliar os assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Embora não exista solução mágica para o conflito, um modo de fazer com que as lideranças palestinas moderadas voltem a ser vistas como relevantes e se credenciem como o interlocutor de cuja ausência os israelenses tanto reclamam, seria desmantelar essas colônias. Mesmo que isso não resulte na paz, faria muito bem à política e às finanças de Israel.


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