Folha de S. Paulo


Considerações sobre a água

SÃO PAULO - Geraldo Alckmin quer ser reeleito governador de São Paulo, mas tem um problema.

Por uma combinação de falta de chuvas e sucessivos anos de má gestão dos recursos hídricos, setor que se viu privado dos investimentos necessários, paulistas de várias regiões correm o risco de ficar sem água nos próximos meses. Isso coloca Alckmin num dilema. Se mantiver a campanha publicitária da Sabesp que fica a todo instante lembrando as pessoas de que elas precisam economizar, pode melhorar a situação dos reservatórios, mas turva o panorama eleitoral, já que estaria consolidando a ideia de que estamos na iminência de um desastre em que o governo tem parcela de responsabilidade. Se some com a propaganda, como, aliás, já ocorreu na TV, alivia a pressão eleitoral, mas o preço pode vir na forma de um excedente de consumo.

Do ponto de vista do cidadão, porém, o dilema não se coloca. Ao contrário do governador, que precisa pintar o quadro como pouco grave até a eleição e como gravíssimo depois, para o consumidor de água é mais vantajoso distribuir as restrições pelo maior período possível, para que elas sejam menos drásticas. E, no que diz respeito à transparência, é sempre preferível que o eleitor vá às urnas com o maior nível de informação possível, para que possa julgar se quem lhe pede o voto é merecedor.

Outro ponto em que vale a pena insistir é que a Sabesp não está usando todos os recursos à sua disposição. Como ensina Alex Pentland, um dos proponentes da nova física social, pequenas alterações na forma como a conta de água é apresentada poderiam lançar os consumidores numa virtuosa (e socialmente gratificante) corrida pela economia. É só divulgar quem são os maiores poupadores em cada rua e bairro que o desperdício cai ainda mais. A ideia é engajar as pessoas em redes sociais próximas o bastante e com metas que pareçam alcançáveis. O truque já foi usado com sucesso em outros países.


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